quinta-feira, agosto 28, 2008

Wall-e (2008), Andrew Stanton

Quando os filmes com pessoas reais só nos desiludem, nada como apostar numa ida ao cinema para ver imagens completamente virtuais, feitas por máquinas que um dia tomarão o controlo do mundo e transformar-nos-ão em processadores de texto e plataformas para jogar GTA IV (por acaso, tenho de tratar da minha ignorância neste último aspecto…)

Primeira coisa maravilhosa extra filme: vem aí um Madagáscar 2. Após meses e meses a atrofiar com as pessoas que me incomodam no cinema, fiz toda a gente ficar incomodada com os meus gritinhos histéricos e “personificação” de pinguim. Nunca uma sequela me deixou tão esperançosa…

Segunda coisa maravilhosa extra-filme: a curta da Pixar que foi mostrada antes do filme. Ver curtas no cinema é tão raro que só posso pedir que isto se torne uma norma. É tão bom, um aperitivo antes do prato principal… Sobre um coelho e um mágico. E uma cenoura. Ahhhhhhh….

E chegamos ao filme. Estava reticente – toda a gente falava bem dele, e isso não costuma ser um bom indício para mim. Mas era uma animação, quiducha e tal. Sim, sabia a história por alto. Mas que mais havia para ver no cinema nesta altura?

Após a indescritível experiência de ver um dos filmes do ano (se não digo o filme do ano é porque ainda estamos em Agosto e está o novo dos Coen para estrear), digo-vos que este ‘ovni’ está alguns passos luz de se tornar num dos meus filmes preferidos de animação. Primeiro que tudo, é ficção científica. Sim, o meu género preferido não são chick-flicks, por estranho que pareça. Depois, é uma distopia, a minha variante preferida de ficção científica. Mais, tem as personagens mais adoráveis de sempre, para um filme desse género. Raramente falam (o que é bom, porque tive de ver a versão dobrada em português – só há quatro cópias do original em território nacional e, adivinhem, três delas estão em Lisboa…), são robots (amor à tecnologia só superado pelo amor aos animais irracionais e relâmpagos), a banda sonora é das coisas mais deliciosas – bem vindo de volta, Thomas Newman – e os créditos finais são… bolas, são geniais.

Isto conjugado com uma historia simples, de amor (uma variante de amor que não é irritante), que não se mete em aventuras para disfarçar com suberfúgios idiotas a sua simplicidade. Pixar, adoro-te profundamente. Isto sem moralidades disfarçadas (à lá Disney), e apresentando uma das personagens femininas mais fortes de sempre, sem quaisquer paternalismos – Eve. Yehhh.

E, claro está, Wall-E. Nunca um robot do lixo foi tão fofinho e outras coisas pindéricas acabadas em –inho. Cada robot com a sua mania. (palmas para o limpador incansável de sujidad).

É um filme para crianças? Definitivamente. O melhor é a maneira como um futuro horrendo (Terra coberta de lixo, humanos supra-obesos, domínio da tecnologia) é apresentado de uma forma tão natural e sem dramas. Sim, a esperança da plantinha, verdusca, que é ao mesmo tempo o que une e separa Wall-e e Eve. Mas.. nem sei explicar.

E as referências cinematográficas ao longo do filme? Além das óbvias – os musicais que Wall-e vê vezes sem conta, vi pelo menos a mais gritante a 2001 Odisseia no Espaço, e ainda Voando Sobre um Ninho de Cucos, The Hitchickers’ Guide to the Galaxy, além de todas as referências ao Admirável Mundo Novo de Huxley, Pinóquio (temos uma ‘barata’ muda a substituir o grilo falante) e a Bíblia aka História Humana em geral.

Adoro que sejam apresentados os dois lados do desenvolvimento tecnológico – a liberdade absoluta e a escravidão absoluta. Tal como as vantagens e desvantagens das máquinas ganharem personalidade própria. I’m afraid I can’t do that, Dave. Wink Wink.

Mais uma ressurreição final, é verdade. Mais uma dança no espaço. Bom ritmo, óptimo guião, excelente trabalho de animação (ainda mais tratando-se de objectos que não existem ainda). E sim, não é por acaso que a Eve tem qualquer coisa de Macintosh, a inspiração é confessada. O que torna o Wall-e… hum…

Para ver muitas vezes até enjoar, se isso for possível. O melhor substituto do ET para os tempos modernos. E isto é um enorme elogio, acreditem.

sexta-feira, agosto 08, 2008

The Dark Knight (2008), Christopher Nolan


Why so Serious?

Ao fim de meses e meses de espera, eis que podemos ver o “filme do ano”, a única coisa que por aí andava com um hype ainda maior que o IPhone – e isso é dizer mesmo, mesmo muito. Com o seu primeiro filme, Batman Begins – um reload da série Batman, que teve a sua primeira aparição nos anos 60 na televisão – Nolan tinham posto no caixote do lixo os devaneios assustadores de Schumacher, com aquelas coisas coisas chamadas Batman Forever e Batman & Robin – sim, todos nos lembramos deste último dos belíssimos mamilos de George Clooney, mais do que da história propriamente dita.

Com The Dark Knight, lamento dizer, não perfilho a opinião do crítico do Público Jorge Mourinha – que para o caixote do lixo vão os incontornáveis filmes de Tim Burton. Snif. Só me consola o facto que o próprio nunca gostou muito deles - qual é o mal de serem cartoonescos???

Primeiro que tudo, Christian Bale foi talhado para vestir a pele – e as cicatrizes – do Cavaleiro Negro. Não só tem o queixo ideal requerido para o papel (com uma voz grossa estranhíssima quando enverga a máscara), como o ar de menino mimado aka Bruce Wayne. Aaron Eckhart finalmente nos dá as origens do Harvey Two-Faces (sim, eu posso ser uma gaja, mas mitologia batmánica é comigo – não tanto como história inglesa, mas dou uns toques), com o seu ar de bom partido completamente estragado por um bocado de gasolina. Michael Caine é o mordomo inglês que todos gostaríamos de ter, Gary Oldman a jogar contra o que nos tem habituado (Sirius Black! Sirius Black!) no papel do dúbio polícia Jim Gordon, e, claro, a garota de serviço, ? , a fazer inveja a muita namorada de super-herói, pois nem todas têm o prazer de, efectivamente, não serem salvas pelo seu bem querido, ou de darem os pés a esse mesmo bem querido ignorando ele o facto.

Não me esqueci de ninguém, pois não? Continuando…

Sim, estamos numa América negra, não um negro Burton (sempre estilizado e onde o roxo fica sempre bem), mas numa negritude realista, onde não é bem banda desenhada que vemos quando olhamos para os prédios a explodir, mas mais o telejornal da noite. O filme começa, inteligentemente, à luz do dia. Nem só de noite explodem coisas.

Batman como o herói de que Gotham merece. Um anti-herói fora-da-lei que assume os assassinatos feitos pelo ‘herói’ Harvey para que ele possa ficar branco e limpo aos olhos dos cidadãos. Finalmente Bruce parecia poder pendurar as orelhas de morcego e dedicar-se a Rachel – surgira alguém capaz de fazer o trabalho por ele (genial os wannabe Batmans ) – mas não cedo se apercebe que afinal não só Rachel deixara de se a ‘única possibilidade de uma vida normal’ como ninguém conseguia ser negro o suficiente como ele, sem se deixar corromper pelos vagos desejos de vingança.

Música muito ousada para blockbuster – ouvi laivos de minimalismo repetitivista???? -, grande trabalho de fotografia, excelente desenho do BatLab (todos o adoramos, certo?), e queremos ver mais vezes o Batman de mota ou de Lamborghini, porque é bem giro.

Grandes momentos: Joker.

Piores momentos: que raio aconteceu ao Joker, afinal?

Será que consigo ignorar por mais tempo? Não.

Bolas, não, não acho que o filme seja o novo Laranja Mecânica. Sorry. Mas temos um novo Alex, isso sim. Heath Leadger, assustadoramente ausente desta personagem (no melhor sentido possível), que nos enche de calafrios por ser impossível não pensar em coisas extra-película quando o vemos chegar ‘morto’ dentro de uns sacos de plástico ao escritório de um dos patrões da Máfia, e que dá um colorido muito mais que roxo ao filme – sem ele, nem metade do bom o filme teria sido. O assalto inicial dá o tom ao filme, nunca mais esqueceremos o momento do hospital – com Leadger vestido de enfermeira -, ou mesmo os seus requintes de malvadez enquanto persegue o Batman com um camião. David Denby tem uma frase fantástica acerca dele: He’s part freaky clown, part Alice Cooper the morning after, and all actor. E quanto aos momentos nos barcos? Delicioso. Sim, dêem a porcaria do homenzinho dourado ao rapaz! Ele nunca esteve tão bem. E eu sigo-o atentamente desde o 10 Coisas que Odeio em Ti. [1] É claro que agora o meu lugar de psicopata preferido se encontra bastante tremido entre o Joker, Chigurh e, claro, Alex. Argh, escolhas difíceis…

Mal posso esperar para o ver em The Imaginarius of Doctor Parnassus.

(não faço ideia porque raio os 1s estão tão grandes... joker??)


[1] Que, ao contrário do que muitos julgam, não é só um chick flick mas, primeiro que tudo, uma adaptação modernaça de uma peça de Shakespeare, The Taming of the Shrew.

Funny Games US (2008), Michael Haneke

Qualquer pretensioso cinéfilo que se preze conhece (nem que seja só de nome ou polémica) a obra do alemão demente Senhor Haneke, e eu não sou excepção – A Pianista foi de longe um dos filmes mais poderosos que vi, antes de saber mesmo como se ligava uma câmara & quem constituía o Novo Cinema Alemão dos anos 70…

Funny Games (falo do original) era daqueles filmes que estava na minha interminável lista de filmes a ver um dia, um objecto que tinha a impressão de conhecer na totalidade sem nunca ter visto, graças aos magníficos livros sobre guionismo & análise de filmes & cinema pós-moderno que tive de papar durante o curso. Por isso, ao ver escarrapachada da capa da Sight & Sound[1] que havia um remake americano a estrear, ainda mais dirigido pelo próprio Haneke (sim, não é só o Lucas que gosta de refazer os seus filmes), senti uma alegria imensa de poder ver o filme ‘actualizado’ e com um cast de categoria.

Não faço a mínima ideia quais as mudanças (ou se há mesmo mudanças) em relação ao original, por isso abstenho-me de falar disso (tretas que cada filme deve ser analisado per se e o mais possível sem referências externas apoiam-me nisto). Uma coisa é certa: Haneke não é para estômagos fáceis, e temos de estar preparados para aturar filosofia dos media de cada vez que nos concedemos ver um filme do senhor. O casal que teve o prazer de partilhar a sala de cinema comigo não estava a achar grande piada – aliás, acredito que Haneke ia achar genial a reacção do rapaz ao momento em que Pitt faz rewind na acção, destruindo a momentânea felicidade do espectador por ver justiça feita (e uma antevisão de final feliz).

Michael Pitt, digo já, nasceu para fazer papéis de psicopata. Naomi Watts, como vítima indefesa, ou dona de casa, fica um pouco na sombra. Roth está acima das minhas míseras palavras. A fotografia é, como já nos acostumámos nos filmes deste senhor realizador, uma carta muito forte. Palmas para Darius Khondji, que já tínhamos encontrado em algo completamente diferente como My Blueberry Nights, Se7en e Delicatessen. O mais chocante para mim, eu, a inimpressionável, foi a utilização da música. O contraste entre clássica e heavy rock… arrepia-me. Bastante potente foi também o anticlímax, que não conhecia.

É uma história forte, sobre a influência dos media na violência juvenil, mas que ironicamente se assume também como uma glorificação da violência, acrescentando que o espectador é um cúmplice passivo e indefeso, por muito paradoxal que isto possa parecer. Haneke afirmou em entrevista que a principal razão deste remake era levar a mensagem a um público mais alargado (ele sabe como a maior parte dos americanos é alérgico a legendas…), e faz assim um filme anti-Hollywood no seio do próprio.

Shall we end? Não causou tanto impacto como eu queria que causasse (o saber a história antecipadamente, ou talvez achar o tema da Pianista mais perturbante – afinal, já passaram dez anos desde que o original foi feito, entretanto o cinema tem-se tornado… hum… deliciosamente weirdo, nalgumas correntes - e não é claramente um bom filme para quem não sabe ao que vai, mas vale a pena, quanto mais não seja para os intelectualóides se sentirem perturbados e os outros se deliciarem com sangue, tripas, tortura e a Naomi Watts de roupa interior, amarrada, a saltar. Cada um com o seu gore…



[1] Reparem como a autora, aparentemente em tom de gozo quando fala de pretensiosos cinéfilos, deixa casualmente cair uma referência intelectualóide para mostrar a sua imensurável superioridade perante leitores de Empire & Total Film & Premiere & Tv Guia

Los Borgia (2006), Antonio Hernández


Há dias em que, não sabendo o que ir ver ao cinema, escolho a produção europeia e desconhecida. Mais, numa semana em que fomos deliciosamente presenciados pela segunda temporada dos Tudors na 2:, diariamente em dose dupla, pareceu-me boa ideia ir ver um filme espanhol que falasse dos devassos Bórgia.

Mas porque é que ninguém me dá uma estalada quando tenho estas ideias peregrinas?

Pondo de lado o facto que filmes em língua espanhola são normalmente irritantes (excepções honrosas feitas para alguns filmes, por exemplo, O Labirinto do Fauno), e pondo de lado que os Tudor elevaram os padrões da reconstituição histórica a um nível bastante elevado, estamos perante um filme completamente dispensável de ter estreado em sala. Quer dizer, privaram-nos do prazer de ver The Underdog em ecrã grande, e põem lá esta paneleirice?

Exactidão histórica – ao nível de pormenores não faço a mínima, mas parece que seguiram as linhas gerais. Conseguiram a proeza de ter a Lucrécia Bórgia mais irritante de sempre, o que é qualquer coisa. E o irmão – será a personagem principal? – também é bastante espanhol…. Argh. Era suposto ser italiano, não????

Mais - o pior trabalho de iluminação de sempre. Sempre a pôr sombras nos sítios que deviam ser de relevo, e luzes nas zonas que pura e simplesmente não interessam. Narrativa? Tentam pôr o Rossio na Betesga, comprimindo não sei quantos anos de história (muitos) em quase três horas, sem fazer qualquer trabalho de selecção de acontecimentos relevantes. Aliás, põem o mesmo ênfase nos três principais membros da família (Alexandre, Carlos e Lucrécia), mas um ênfase tão superficial que podiam aprender com qualquer novela de horário nobre. Não, não nos apresenta às personagens – elas mexem-se, falam-se, mas para nós tanto nos faz. A construção dramática (um empolar de acontecimentos a caminho de um clímax) é inexistente. Os actores, credo, não me façam começar a falar. Roupas giras? Nem reparei. Os meus bocejos frequentes não me deixaram ver.

Bons momentos: bem, eu tinha saudades de não gostar mesmo nada de um filme…

Música: o mesmo tema, aliás, o mesmo excerto de tema repetido vezes sem conta, mesmo quando era absolutamente necessário, por motivos dramáticos, um tipo de música mais apropriado. Sim, eu de vez em quando faço isso nas curtas, mas, 1º são curtas; 2º, é com intenção cómica.

Mais uma coisa: as referências constantes ao reino de Portugal irritaram-me fortemente, e eu até que sou anti-patriótica. Mas isto vindo de um país que na altura nem país era… Cabrones.


(pelos vistos em DVD tem mais uma hora e tal... hum... mas porque raio insistem em estrear em sala mini-séries condensadas, porquê????)

terça-feira, agosto 05, 2008

Hancock (2008), Peter Berg


A pergunta que se impõe é: porque raio este filme foi publicitado como comédia? Têm noção da quantidade de pessoas que foram ao engano?

Acrescente-se a irritação sentida quando, na primeira parte do filme, se houvesse mais anúncios ao ‘twist surpresa’, até as criancinhas de 4 anos percebiam. ‘Ah, fiquei tão surpreendido…’ Como, gente?

No fundo no fundo, ultimamente sinto que tudo o que vejo são remakes descarados, ou sempre o mesmo filme. Este pareceu-me a versão super-herói do Youth Without Youth. Hum. Ou do Eternamente Jovem. Ou coisa assim.

Sim, Will Smith é um bom actor – despe aqui a sua imagem de menino bonzinho para fazer de herói alcóolico e sem memória, que salva as pessoas estragando tudo em seu redor. Com a ajuda de um promotor que salva de ser passado a ferro por um comboio (atirando o carro para cima de outros – subtileza não é o seu nome do meio), John Hancock vai tentar ser amado (ohhhhhh) pela população ingrata. A meio do filme, surge um twist que fora anunciado por néons fluorescentes e campainhas, mas que no fundo parece metido a martelo para conduzir a coisa a um fim comovente (e batmánico), do que propriamente uma reviravolta wow. Porque a grande dúvida era como raio ia acabar um filme assim, sem vilão, apenas com o objectivo narrativo aparente que Hancock se teria de regenerar e se tornar um herói a sério (roupinha de licra incluída). Mas como isso era simples demais, os argumentistas pensaram – ná. Vamos surpreender as pessoas. Pois sim claro…

Acho que foi muito ousado pegar na premissa e não a transformar numa comédia. Mas até que ponto pegar numa história de superheróis marginais e transformá-la numa história de amor imortal… argh. Se fosse eu a mandar, evitava a parte do romance intemporal e jogava com a noção de amizade inter-species, isto é, entre humano normal e humano (?) com super-poderes. A ideia de perda de memória, deixem que vos diga, também é um bocado tvi demais, não? E se bem que a guerra dos sexos à velocidade da luz pela cidade é muito atraente visualmente, isso não redime a sensação do filme estar a caminhar por um caminho… sei lá.

Esteticamente, voltamos à câmara trémula que é tão moderna (mas aqui revela-se adequada, conjugada com uma fotografia “suja” que dá um outro lado interessante ao habitual glamour heróico) que daqui a uns anos ninguém poderá com ela, tal como hoje ninguém pode com os penteados e música dos filmes de acção dos anos 80. Ok, há dias…

Mais, se vejo mais alguma ressurreição final ponho uma bomba atómica em Hollywood. Não me compreendam mal – quando é o Emmerich que o faz, tem estilo, porque é nessa linha que ele faz filmes. Agora, um filme com pretensões de reinventar o conceito de filme de super-herói… Ná.

Come-se, mas pode-se bem esperar pela versão televisiva embalada. Não há necessidade de ir ao restaurante. (isto de férias torna-me a escrita esquizofrénica, peço desculpa).

Made of Honor (2008), Paul Weiland


Chick flick alert!

Confissão a fazer: até ir confirmar ao imdb o nome do realizador, estava convencida que o título em inglês era ‘maid of honor’. Afinal o trocadilho é ainda mais profundo do que eu julgava. E que tradução teve em português? ‘Padrinho mas Pouco’. Tremo de saber qual o título brasileiro… oh não. Não é tão giro como suspeitava. ‘O melhor amigo da noiva.’ Duh. Até os brasileiros ficam desinspirados na silly season…

E sim, CLARO que fui ver o filme por causa do Patrick Dempsey. Há mais alguma razão para ver tal coisa? E depois de passar meses, semanas, fechada no quarto da residência a ver filmes noirs, a ler sobre noirs e a editar um malfadado noir (que qualquer dia tenho de pôr online), até as novelas da TVI me estavam a parecer apelativas (ladysarac, a rainha das referências pessoais que não interessam a ninguém)…

Pronto, Tom era um engatatão que descobre que a mulher da vida dele é a melhor amiga Hannah, ao sentir a falta dela no mês e meio que esta foi passar à Escócia. Entretanto, ela vem… com um duque escocês agarrado como noivo. Sim, depois de ter visto Run FatBoy Run, com Simon Pegg a fazer de Julia Roberts em Runaway Bride, eis que sou contemplada com Dempsey a fazer de Julia Roberts em O Casamento do Meu Melhor Amigo. Para quando uma nova Julia Roberts masculina em versões pouco dissimuladas de Erin Brokovitch, Notting Hill (aahahahhah adoro este filmeeeeee) e, quiçá, Pretty Woman? (atenção – quero uma parte dos lucros destas ideias, ouviram???)

Mas aqui em vez de Julia Roberts a atazanar a rival, temos o desenvolvimento da química entre Hannah e Tom, já que este, como devem ter adivinhado pelo título, é a Dama de Honor, vulgo Madrinha por terras lusas, de serviço. Sim, o momento de mostra de lingerie era completamente dispensável, mas pronto, que se há-de fazer? Tudo para ver Michelle Monaghan (lado lésbico allert!) em pouca roupa e muito … aham… charme…

Não deixam de ser divertidos os clichés que povoam o filme – a chegada do ‘salvador’ num cavalo branco (o original e o remake, muito mais divertido); todas as coisas acerca da Escócia – mau tempo, ovelhas, gaitas de foles, sotaque, kilts, mini-kilts, whisky, caçadas… tudo. E castelos, bateladas de castelos. Pubs. Costumes esquisitos de casamento. Hum…

Sim, que pode um mulherengo incorrigível contra um duque escocês? Quase nada. Se bem que consegui perceber quase no início como iria ele ganhar a rapariga no fim (o grande motivo, vá lá), mas isso sou eu, que ando há demasiado tempo a ler livros de guionismo…) E não deixa de ser querido como a personagem quer conquistar Hannah por meios lícitos… Oh, os homens são tão honestos…

E sim, o senhor que faz de pai de Tom, não estão a ver mal, não, é o senhor Sidney Pollack, o Realizador. (para testarem os vossos conhecimentos faciais de realizadores, que tal passarem pelo meu outro blog www.saricesartisticas.blogspot.com e jogarem ‘Name the Director’? ladysarac, a rainha da auto-publicidade).

Mas pronto, não é assim uma coisa por aí além. Tem uns one-liners porreiros, de vez em quando, para o género. Mas nada de wow. É razoável/bom dentro do género, mas para quem viu o da Julia Roberts, vai ter déjà-vus constantes. A banda sonora também é demasiado radiofónica para meu gosto (You Give me Something do James Morrison??? PorquÊ????)

Óptimo para uma tarde de domingo, ou para qualquer altura que queiram perceber porque é que as gajas acham piada ao Dempsey (mesmo sem roupa médica), ou as belíssimas pernas dele… ahhahahahahaha…

sexta-feira, agosto 01, 2008

Run Fatboy Run (2007), David Schwimmer

Que a presença de Simon Pegg não vos iluda: isto não é Hot Fuss. A primeira coisa que fica clara após o visionamento do filme é que a Nike é o seu principal patrocinador. A segunda é que David Schwimmer ainda tem muito que aprender como realizador. A terceira é que Pegg é muito mais divertido, apesar de tudo, do que Julia Roberts (e usa melhores sapatilhas).

Dennis Doyle, guarda, fugiu do seu casamento e, ironia das ironias, tem de voltar a correr para ele. Tem um arqui-inimigo, Whit (Hank Azaria, a voz do Moe dos Simpsons, numa de trivia fútil), que lhe tenta roubar a mais que amada, ex-noiva e mãe do seu filho, Libby. Para provar que é um homem de compromissos, e que se esforça para conseguir as coisas que realmente quer, Dennis inscreve-se na Grande Maratona de Londres, onde Whit corre todos os anos. Após um treino que joga com os sempre-eternos clichés do treino (Eye of the tiger…), ajudado pelo seu senhorio Mr. Goshdashtidar e o amigo naturalista Gordon, Dennis lá vai correr, mas uma rasteira feita por Whit lesiona-o. É claro que o nosso herói não se deixa abater e arrasta-se para a meta a uma velocidade sofrível, acompanhado por jornalistas, apoiantes e outros ocasionais. E sim, fica com a rapariga no fim. Ahhhhhh…. Que surpresa…

A história não tem tanto humor britânico como eu gostaria de ver, mas tem os seus momentos. As personagens não são de todo superficiais (Libby por exemplo), mas fazer de Whit um malvado parece-me demasiado fácil. A marca da Nike constantemente a aparecer no ecrã também irrita um bocado.

Mas pronto, aquele grande tema da perseverança a todo o custo, a beleza em podermos recuperar o amor da nossa vida com imenso esforço, a ideia peregrina que todo o desportista tem um lado negro, que não há homens perfeitos e que as mulheres têm de se contentar com o abaixo de forma e falhado que gosta delas, porque os bem-sucedidos são o demo (se bem que eu não me importava de dar umas voltinhas com o Pegg, mas o que quero dizer é que comédias românticas realizadas por homens vão dar sempre a esta parede – oh pra nós tão feios, gostem de nós… credo. Se bem que Schwimmer não vai, felizmente, ao ridículo de Appatow)

E é sempre agradável ver pessoas a correr e a suar enquanto nos empaturramos de pipocas nas cadeiras desconfortáveis da Lusomundo. Porque até temos a sensação de fazermos exercício, bolas. Se bem que sem resultados visíveis…

Sex and The City (2008), Michael Patrick King

Ora bem, que razões pode ter uma miúda que na maior parte dos dias se considera uma pseudo-intelectual, rapariguinha que mais depressa se torna monja budista que sobe ao altar de vestido branco, que não quer ouvir falar sequer em romance e compromisso e anilhas e etc e tal, a ir ver a solteira das solteiras, Carrie Bradshaw, com quem cresceu a ver
à socapa uma das poucas séries que tinha bolinha vermelha nos anos 90, e que lhe impingiu o desejo secreto alas nunca resolvido de ser uma escritora nova-iorquina bem-sucedida, a deixar-se levar para o altar pelo Mr. Big?

Todas!!!!

Sex and the City é o responsável pela existência de gajas com a mania que são independentes (como eu), além de ter aberto o caminho a séries tão interessantes como The L Word . (e reparem naquela mesh up frustrada das duas séries que é Cashmere Mafia). E numa altura em que parece que tudo o que é série está obrigado a ter uma adaptação cinematográfica (Simpsons, X-Files…), porque não esta?

Sim, é um episódio quase quádruplo, um prólogo à série e às manias que vimos desenvolver perante os nossos olhos. Mas poderia ser outra coisa? Michael Patrick King é o típico realizador tarefeiro que se estreia nestas andanças. Sim, lá veremos Carrie casar (não como pensamos que casaria - mas não quero estragar a surpresa…), e temos a delicia de rever Samantha mais gordinha e mais… monogâmica???? Depois a irritante Miranda e a parvinha Charlotte, ambas casadas e com uma vidinha típica… Para quem não seguia a série, a explicação inicial dá um cheirinho da história e personalidades de cada uma.

Depois temos o politicamente correcto com uma actriz negra a fazer de assistente de Carrie (Jennifer Hudson), e os gays de serviço (lésbicas nem vê-las – seria demasiada a insinuação, parece-me). Com uma música inicial que deixa as fãs loucas, passando depois para um hip-hop numa de ‘eh, os anos 90 já passaram, actualizem-se!’ (um bocado detestável, mas pronto), e piadinhas escatológicas, appleísticas e até púbicas – a série também era assim, eu lembro-me bem do episódio em que Carrie deixa escapar um pum à frente de Mr. Big… - lá vamos vendo 148 minutos de filme. Sim, houve quem achasse que até ao intervalo já era demasiado filme, mas não, nunca poderia acabar assim. Com uma viagem ao México, a descoberta do amor verdadeiro, bebés, roupa e sapatos, lá caminhamos em cima de high heels até ao final previsível, que, pronto, era-o demasiado.

Sim, a moda mudou muito nos últimos anos – genial o momento do desfile do ‘pior dos anos 80’. Referência a Cinderela – pirosa. Samantha como monogâmica? Demasiado forçado. Ter mulheres quarentonas e cinquentonas a protagonizar filmes, com banhas e estrias à mostra ? Hurrayyy!!_ Pior tagline de sempre (‘Get Carried Away’)? – bastante provável. Trocadilhos com o nome do Mr. Big? Nunca suficientes.

Em suma, um filme de gajas – e para gajos que gostem de moda -, um presentinho para os fãs da série, um mega-final (?) para a trapalhada toda, a vontade renovada de ir para Nova Iorque com 4 amigas e fazer uma vida esplendorosa… ahahahahah….