quinta-feira, outubro 30, 2008

Tropic Thunder (2008), Ben Stiller

Primeiro, grande excitação à volta do Apocalipse Now realizado por Ben Stiller. Depois, na estreia, grande desilusão – eh pá, não tem assim tanta piada, e tal… Por fim, leio a muitos mil pés de altitude a crítica da Sight & Sound à coisa e, tendo de escolher entre isso e a Mamma Mia em karaoke (bolas. O poster ficaria tão bem com a cor do blog…), pensei, buga lá ver o Stiller com bíceps.

Dos trailers iniciais (ups… SPOILER ALERT! SPOILER ALERT! Ou no início não conta? Argh…) – aliás, acho que todos os filmes deviam vir com trailers incluídos no início, porque há anos que não via tanto trailer seguido sem ser interrompido por anúncios à Sumol… - dou o meu coração ao dos monges, que oportunamente me esqueci do nome… o meu delírio atingiu o clímax quando vi o Robert Downey Jr. a roçar a mão no Tobey McGuire. Deviam haver mais momentos como este… e a música.. ahhhh… Gregorian ou Il Divo ou o raio…

Quanto ao filme propriamente dito, pensei que tivesse menos piada, mas sou suspeita. Qualquer coisa que cheire a paródia do meu futuro emprego tem gargalhada garantida. Ao contrário dos médicos, que não suportam o charme do House… lá estou eu a dispersar. Tosse seca. Concentração. Vamos lá outra vez. (tenho mais false starts que um filme do Woody Allen…)

Felizmente, os receios de uma paródia idiota ao Apocalipse Now não foram infundados. E no entanto, mais do que Coppola, a coisa tem um não sei que de Kubrick que ainda não consegui isolar e identificar de forma segura,.... acho que é a sala onde se passeia Les Grossman, interpretado por um irreconhecível Tom Cruise… estive até ao fim a pensar que estava perante um irmão do Paul Giammatti.. como é possível? O homem claramente vendeu a alma ao diabo, não me lembro dele tão bom actor… (Valquírias! Valquírias!)

Stiller como realizador: bem, foi ele que nos deu o Cable Guy, certo? O homem tem estilo para a coisa, tem sim. E como actor até que se safa. Robert Downey Jr., welcome to the world again! Jack Black, a criatura gasosa… (type casting, mas que se há-de fazer…) Brandon Jackson também a dar um ar da sua graça, no pouco escondido trocadilho Alpa Chino… E Matthew McConaughey, o homem no dilema moral de escolher entre um jacto privado e o melhor amigo e cliente… sim, sim, sim…

Melhores momentos: trailers iniciais, momento do realizador a ir pelos ares em pedações de carne, o Óscar de bambu ou o raio, os grandes momentos de Stiller na versão mimo do Forrest Gump (never go full retarded!), o regresso de Tugg à segurança do helicóptero com o ‘filho’ numa atitude pouco filial, Les a dançar no final (e a minha cara quando vejo que é o Tom Cruise…), etc etc, cerimónia dos Óscares, etc etc

Menos bom: os gases são uma piada gasta, mesmo quando estão ao serviço de mostrar o quão gasta é a piada.


(adoro o poster. Vocês não adoram o poster? O poster diz tudo).

quarta-feira, outubro 22, 2008

Burn After Reading (2008), Joel & Ethan Coen

Ah, o magnífico syndrome pós-Óscar… pelo menos não foram filmar um concerto dos… deixem pensar qual é o equivalente musical dos Coen… White Stripes?

Hum, eu sei o que estão a pensar, vou falar de certeza no bom que é ver o Brad Pitt e o George Clooney, esses ícones sexuais das fêmeas heterossexuais, no mesmo filme… ná. Tenho os interruptores hormonais desligados.

Pois, o filme. Acho que devia haver um enorme cartaz à entrada da sala a dizer :’Comédia negra – i.e., não inclui humor fácil com traques e enormes mamas balouçantes.’ Os deuses sabem como me apeteceu gritar isso ao ser que batia palmas no fim enquanto falava – como se nos interessasse imenso a opinião dele – ‘eh pá, que filme tããão divertido’, enquanto o agarrava pelo colarinho e comentava maldosamente o mau gosto para sapatilhas da namorada/amiga colorida/queca ocasional. Mas tenho de dizer, em abono da verdade, que este filme é um piolhito insignificante ao pé do filme negro que para mim serve de referência nos Coen, The Big Lebovsky. De qualquer maneira, bater palmas no fim de um filme irrita-me soberanamente e as pessoas que fazem isso deviam ser levadas para Guantánamo. (a não ser, claro, no caso em que o infeliz realizador esteja na sala, e mesmo assim…)

A história é requintada – muito bem conseguida a forma como vai construindo a tensão no primeiro e segundo actos, sem que consigamos perceber que raio se passa, e de repente, quando estamos descansadinhos, zás, reviravolta inesperada (mas sobejamente anunciada, ao ver a coisa em retrospectiva… como é que eles conseguem, deuses?), e a coisa descamba. Demora um bocadinho demais a acontecer efectivamente alguma coisa, se bem que os diálogos deliciosos à lá Coen vão servindo para não morrer de tédio (e a peculiar técnica de realização, o ênfase no vazio – mesmo nos edifícios governamentais, sempre desertos -, a construção de ângulos pouco usuais, etc etc teca teca). Sim, até ao intervalo não acontece nada. Depois, o final sabe um bocado a, sei lá, maroto da parte deles, porque sabemos do destino das personagens pelo discurso e não pela imagem (coisa tão europeia, credo). E esqueceram-se de UMA!!!! Que raio aconteceu à fria, calculista e ruiva Tilda Swinton? Foi para casa polir o Óscar? Desistiu do Harry (Clooney) e inscreveu-se no ginásio? (HardBodies ou assim…) Whatever…

Grande actor do filme, e não querendo menosprezar os outros todos, mas o meu voto vai ter com o Brad Pitt. Não sei se o penteado realmente ajudou (o Bardem não se pode queixar nesse departamento…), ou se, como muitos suspeitavam (mesmo aqueles que não têm vaginas ou estilos de vida alternativos), ele é um óptimo actor. Inclino-me para a última. Ele é a encarnação da estupidez em pessoa. Clooney parece ter sido fintado pelos irmãos e ter sido posto a representar uma variante muito caricaturada de auto-biografia… McDormand – mais um penteado esquisito – parece que, de há uns anos para cá, faz sempre o mesmo papel (com pequenas variantes, ou então estou a ter muita pontaria com os filmes que vejo dela…). Malkovich para mim será sempre o francês do Johnny English (sim, mesmo depois de ter visto o Ligações Perigosas…) O Mr. Fischer dos Six Feet Under … camisa abotoada até cima, ar apaixonado desesperado…ooohhh… Swinton quero-a ver o mais depressa possível num papel de boazinha, para me decidir sobre ela.

Há música (que vai gozando com o espectador ao construir momentos de tensão para o nada…), há espiões, há uma agência de encontros pela net, há a Embaixada Russa e os ipods. Melhores momentos: quando sabemos finalmente o que Harry está a construir na garagem, o encontro de Linda com o homem dos óculos esquisitos, e, claro, Brad Pitt a sair do armário da pior maneira possível (a metáfora não é no sentido habitual, receio). Apelidos estrangeiros, bom toque.

SPOILER ALERT!

O que interessa é que a moça conseguiu o dinheiro para a operação. E o resto são balelas!

END OF SPOILER ALERT

Piores momentos: ai. Demora a desenvolver, não é um Filme Maior, não tem o Bardem atrás das pessoas com uma botija de ar comprimido. Mesmo assim fãs dos manos não vão chorar o dinheiro do bilhete. Acho eu.