quarta-feira, dezembro 30, 2009

Sherlock Holmes (2009), Guy Ritchie


Confesso que tenho grandes lacunas na opus do senhor Ritchie. A única coisa que conheço são os maravilhosos anúncios para a BMW com o não menos maravilhoso Clive Owen... e sim, sei que tenho de ver Snatch e RocknRolla antes que um raio enviado do céu cinematográfico me fulmine, mas bolas, vocês tem noção da quantidade de filmes que andam a estrear por estes lados?

Mas este trailer despertou algo em mim, e voilá, eis que o elejo como filme para ver no aniversário. Uma personagem victoriana, filmagens em Londres, Robert Downey Jr. E Jude Law, que mais podia eu querer?

E não estou desiludida, se bem que a história é ranhosamente previsivel (como costumam ser todas as histórias desde que aprendi as bases de guionismo - vejo os truquezinhos a desenharem-se perante mim de uma maneira que por vezes chega a ser irritante, mas não há botão off infelizmente...). Sherlock Holmes é um filme divertido, com bons momentos que não apareceram no trailer, um bocadinho de macabro, muitas sequências de acção, óptimos actores que parecem estar a divertir-se, um vilão estranhamente semelhante a Steve Carell num dia de mau humor, roupas maravilhosas, uma ponte em construção, e um genial mergulho de uma das janelas do Parlamento em que não consegui deixar de pensar, dentro da minha cabecinha de pré-produção: mas como RAIO é que eles conseguiram obter autorização para fazer aquilo??

Claro que, para não variar muito, o cheirinho a sequela no final estraga um bocadinho a viagem, especialmente porque, bem, a quantidade de pontas soltas que são prometidas resolução nessa possibilidade de novo capítulo... bem, o excesso de confiança em quão bom é um filme tende a enervar-me.

Pontos positivos: Downey Jr. e Jude Law, uma dupla com muita química (sim, com um cheirinho de homoerótica, mesmo), o brilhante trabalho de CGI com a velha Londres, essa maluca, todas as sequencias de acção, a fotografia, o começar in medias res, a personagem de Rachel McAdams, o momento em que vejo o cemitério de West Brompton no ecrã (eu filmei ali!!! quase fui presa, mas o que é que isso interessa?), a reinvenção de Holmes pelos guionistas e Downey Jr.

Menos bom: além do cheirinho a sequela no final, a personagem de Blackwood não me convenceu inteiramente, e, claro, a previsibilidade da história, principalmente quando mostram, quase do nada, a Ponte de Londres em construção, sem o meio, qual maravilhoso sítio para uma cena final de tensão e acção... elementar, meus caros inexistentes leitores...


segunda-feira, dezembro 21, 2009

Where the Wild Things Are (2009), Spike Jonze

Poucos trailers tem tanto poder como o para esta pequena jóia de Natal: quantos de nós não se babaram abundantemente a olhar para um estranho mundo cheio de monstros e de um miúdo vestido de animalzinho peludo? Todos ADORAMOS coisas peludas. E quase todos adoramos Spike Jonze e o estranho mundo que ele gosta de criar para nós. A sua chamada marca de autor, algo que todos os infelizes alunos de escola de cinema se sentem compelidos a tentar ter mas que acabam a fazer o básico o mais depressa possível porque, bem, porque os nervos são uma coisa lixada...

Ora, neste filme eu comecei o caminho inverso: primeiro comecei a ler sobre a técnica envolvida (um belíssimo artigo na American Cinematographer online, que recomendo a maluquinhos da técnica como eu), e deixei-me totalmente na ignorância perante a Toda Poderosa História. Pensei, o Spike Jonze nunca me desiludiu, eu confio nele.

E ele não desiludiu, mas também não posso dizer que me tenha deixado com o queixo no chão e a mente a quinhentos mil à hora. Não me aborreci, mas apetece-me ver o filme outra vez? Nem por isso. A não ser pelo lado visual espampanante. Maldito 35 mm e todas as suas possibilidades expressivas. Muito boa escolha terem feito os monstros com fatos e não com CGI. Dá todo um ar retro à coisa que aquece o coração por dentro.

A história? Sim, eu sei que é a adaptação de uma história infantil, daquelas bem pequeninas, com letras gordas, e que, como todos os grandes clássicos da literatura infantil britanico-americana, eu não li. (algo que estou a tentar resolver o mais depressa possível - ou talvez guardar para quando me reproduzir...) Por isso, claro que o guião de um filme de duas horas teve de ir buscar materiais a outras coisas. Gosto da ideia de todos termos uma fera dentro de nós, gosto que algumas coisas da história não são óbvias (o que aconteceu ao pai do miúdo, afinal?), e gosto que toda a história pareça estar a ser contada por uma criança com uma imaginação delirante. Tudo isso é bom. Mas não senti uma catarse, não senti um pathos, nada. Sou uma insensível educada nas regras do storytelling e que conhece todos os esquemas e estratagemas para fazer uma audiência chorar? Sou uma vendida da técnica? Não sei. Os vendidos que foram ao cinema comigo também se ficaram pelo gostar sem adorações.

O grande factor X (ah ah) do filme será, sem dúvida alguma, Max Records, o pequeno actor que dá corpo e raiva à personagem de Max. O menino Records também participou em The Brothers Bloom, o que me dá uma imensa vontade de ver esse filme, e desde o primeiro momento em que aparece no ecrã neste filme, nós ficamos vidrados. Sim, ele é o Rei. Digno do trono.

O filme ideal para ir ver com criancinhas, ou o presente de Natal mais fofo. Um filme com garras pequeninas, que mal arranham, mas que impressionam pela beleza.


domingo, dezembro 06, 2009

A Serious Man (2009), Coen Brothers


Eu casaria com ambos os Coen se pudesse. Eles são uma das minhas grandes referências sempre que tento pensar em termos visuais, em como contar histórias. Ninguém sabe fazer comédias negras como eles. Eu gosto de comédias negras por causa deles.

Por isso, gostaria de dizer que, mal soube que eles tinham um filme novo, corri aos cinemas a vê-los. Mas não. Fui arrastada pelo meu director de fotografia, mas pronto, não se pode dizer que ele tenha perdido muito tempo a convencer-me.

Todas as pessoas com que falei, que viram o filme antes de mim, disseram-me que o fim era um bocado... hum... fora. Eu pensei, do alto da minha imensa sabedoria e experiencia cinematográfica, esta gente não conhece a obra dos Coen! Eles fazem filmes com finais estranhos! Eles são os heróis do anti-clímax! Mas não é que dei para mim, quando os créditos finais começaram a rolar e as luzes do cinema se acenderam, a virar-me para o lado e exclamar: esqueceram-se de pôr o último rolo de filme! Isto não pode ter acabado assim!

Entretanto, no dia seguinte, chego à conclusão que, além de não ter atingido completamente o fim, também ainda estou para perceber o início (exibido num irritante 4 por 3 que me fez quase levantar e ir-me queixar ao projeccionista que estava a cortar os lados do filme).

Passada uma semana, começo a conformar-me com a minha sorte e resumo-me a gostar do filme sem reservas. Afinal, quem precisa de inícios ou fins? Exposição e resolução são sobrevalorizadas...

Baseado na história bíblica de Job (se bem que para mim, isso não adianta nada à história), cheio de referências judias e de humor negro, e repleto da mestria de storytelling dos irmãos (simples, mas conciso e eficaz... que nervos, como é que eles conseguem...) , passada, mais uma vez, nos anos 60. O quase desconhecido Michael Stuhlbarg é impressivo como Larry, se bem que nada paga o prazer de ver Fred Melamed, um habituée de Woody Allen, anunciar, com a sua voz calma de Sy, 'It's gonna be fiiine', vezes sem conta, com os seus abraços.

Interessante também é o paralelo estabelecido entre o pai sofredor e o filho que perde o seu walkman para o Rabi (e sim, as palavras do Rabi são memoráveis). Claro que estamos mesmo a falar de história do Cinema ao mostrar a cerimónia de Mazel Tov pelos olhos de um adolescente sob o efeito de drogas... acrescente-se um tio que passa a vida na casa de banho com um problema de jogo, Rabis que nada devem à Bola Divinatória e, claro, um momento inesperado de deus ex machina no fim... e temos um filme que fica bem entre os filmes menores dos Coen, bem acima de Burn After Reading mas, claro, bem abaixo de The Big Lebowsky e No Country for Old Men. Sinceramente, não me importa. Ver um Coen, como olhar para um Rembrandt, é uma lição em si mesmo. E eu estou sedenta de inspiração.

PS: Sim, Roger Deakins é um senhor, até parece que era preciso dizer outra vez... e uma óptima banda sonora, duh. Óbvio.