Começo o post por dizer que, ao contrário da maioria da minha geração, não sou uma admiradora fanática e cega do Sr. Lynch. Espero não ser mal interpretada – O Homem Elefante faz parte do meu top ten, adorei o Twin Peaks e aprecio bastante as estratégias narrativas do senhor.
E por isso tudo queria muito ver o Inland Empire. E aproveitando um ciclo naquele que é o único sítio em Coimbra que passa filmes não-comerciais, o TAGV, lá fui eu muito airosa. As expectativas eram altas – afinal o David filmou aquilo tudo em digital, gritando aos quatro ventos que aquilo era o futuro (o que o fez subir pontos incontáveis na minha escala de apreço pessoal), e pelo que diziam as pessoas por essa Internet fora a coisa estava extrema – ou se amava ou se odiava. Oba oba, eu adoro essas coisas.
Ora bem, filme visto, após dois dolorosos intervalos que quebraram completamente o ritmo da coisa (porque quando se está a meio de um estado subconsciente acordar estraga tudo), nem sei bem qual é a minha opinião sobre a coisa. Porque eu, que gosto de mandar lamirés sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo naquelas áreas completamente fora da minha área de conhecimento (como é o caso do cinema), tenho opinião sobre tudo. Se for das chocantes, ainda melhor. Mas nada. Quer dizer…
Posso começar inocentemente por dizer que Inland Empire é um filme sobre representação, sobre o cinema em si, sobre uma data de coisas. E sem nexo narrativo nenhum. O que, para mim, até sabe bem de vez em quando, porque depois de ler livros e livros sobre guionismo a inocência de ‘oh, como será que isto acaba?’ desapareceu quase completamente. Numa história que não é história, podemos ir parar a milhentos sítios.
A senhora Laura Dern é fabulosa. Mas sobre isso não há dúvidas, pois não? Aliás, todas as personagens dos filmes de Lynch parecem… personagens dos filmes de Lynch. Ainda não decidi se isso é uma excelente qualidade autoral ou um defeito de falta de… como é que se diz originalidade de forma gratuitamente erudita?... não me lembro, o calor afecta-me imenso a pseudo-intelectualidade, lamento.
No início até parece que estamos a ver um filmezinho normal, um bocado estranho e tal, mas com um fio condutor. Para mim, os melhores momentos – aqueles que me levam ao delírio cinéfilo – são os dos coelhos gigantes. É de génio. Mas voltando à impessoalidade relativa da crítica, é impressionante como Lynch tira das imagens uma força enorme, tão grande que nem precisa de história para justificá-las. São deliciosamente retiradas de todo o contexto. O jogo com a noção real/ficção é extraordinário, tanto quanto mais eu ando com vontade de fazer uma brincadeira do género com os meus vídeos de verão.
E uma coisa que eu já tinha notado no Homem Elefante, sobretudo quando ele morre ao som do meu estimado Adágio for Strings do compositor americano Samuel Barber (e os anos que eu demorei a aprender estas coisitas de música? Upa upa) – Lynch é um maroto no que toca ao uso emocional da música. Talvez por ser o primeiro filme dele que eu vi numa sala de cinema mais ou menos a sério, com colunas decentes (?), vi que o enfant térrible faz um uso fabuloso da música. Inda por cima, de um senhor que eu até conheço – Penderecki – que é polaco e tudo. (eu ainda julgava que estava a ter alucinações sonoras, a pensar – hum, isto de música contemporânea soa tudo ao mesmo, mas afinal não ;))
De pontos menos positivos, tenho a impressão que o senhor Lynch, por vezes, cai no experimentalismo puro, aquele que eu também partilho por vezes, de – ‘vamos ver o que este efeito do programa de edição faz: ih, que giro, fica’. O problema se calhar é meu. E três horas de filme… ui, foi dose.
Mas quem sou eu para contestar o trabalho dele, né? E se até gostei a 80% do tempo, os outros 20% devem ser falha minha.
Ou não.
E por isso tudo queria muito ver o Inland Empire. E aproveitando um ciclo naquele que é o único sítio em Coimbra que passa filmes não-comerciais, o TAGV, lá fui eu muito airosa. As expectativas eram altas – afinal o David filmou aquilo tudo em digital, gritando aos quatro ventos que aquilo era o futuro (o que o fez subir pontos incontáveis na minha escala de apreço pessoal), e pelo que diziam as pessoas por essa Internet fora a coisa estava extrema – ou se amava ou se odiava. Oba oba, eu adoro essas coisas.
Ora bem, filme visto, após dois dolorosos intervalos que quebraram completamente o ritmo da coisa (porque quando se está a meio de um estado subconsciente acordar estraga tudo), nem sei bem qual é a minha opinião sobre a coisa. Porque eu, que gosto de mandar lamirés sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo naquelas áreas completamente fora da minha área de conhecimento (como é o caso do cinema), tenho opinião sobre tudo. Se for das chocantes, ainda melhor. Mas nada. Quer dizer…
Posso começar inocentemente por dizer que Inland Empire é um filme sobre representação, sobre o cinema em si, sobre uma data de coisas. E sem nexo narrativo nenhum. O que, para mim, até sabe bem de vez em quando, porque depois de ler livros e livros sobre guionismo a inocência de ‘oh, como será que isto acaba?’ desapareceu quase completamente. Numa história que não é história, podemos ir parar a milhentos sítios.
A senhora Laura Dern é fabulosa. Mas sobre isso não há dúvidas, pois não? Aliás, todas as personagens dos filmes de Lynch parecem… personagens dos filmes de Lynch. Ainda não decidi se isso é uma excelente qualidade autoral ou um defeito de falta de… como é que se diz originalidade de forma gratuitamente erudita?... não me lembro, o calor afecta-me imenso a pseudo-intelectualidade, lamento.
No início até parece que estamos a ver um filmezinho normal, um bocado estranho e tal, mas com um fio condutor. Para mim, os melhores momentos – aqueles que me levam ao delírio cinéfilo – são os dos coelhos gigantes. É de génio. Mas voltando à impessoalidade relativa da crítica, é impressionante como Lynch tira das imagens uma força enorme, tão grande que nem precisa de história para justificá-las. São deliciosamente retiradas de todo o contexto. O jogo com a noção real/ficção é extraordinário, tanto quanto mais eu ando com vontade de fazer uma brincadeira do género com os meus vídeos de verão.
E uma coisa que eu já tinha notado no Homem Elefante, sobretudo quando ele morre ao som do meu estimado Adágio for Strings do compositor americano Samuel Barber (e os anos que eu demorei a aprender estas coisitas de música? Upa upa) – Lynch é um maroto no que toca ao uso emocional da música. Talvez por ser o primeiro filme dele que eu vi numa sala de cinema mais ou menos a sério, com colunas decentes (?), vi que o enfant térrible faz um uso fabuloso da música. Inda por cima, de um senhor que eu até conheço – Penderecki – que é polaco e tudo. (eu ainda julgava que estava a ter alucinações sonoras, a pensar – hum, isto de música contemporânea soa tudo ao mesmo, mas afinal não ;))
De pontos menos positivos, tenho a impressão que o senhor Lynch, por vezes, cai no experimentalismo puro, aquele que eu também partilho por vezes, de – ‘vamos ver o que este efeito do programa de edição faz: ih, que giro, fica’. O problema se calhar é meu. E três horas de filme… ui, foi dose.
Mas quem sou eu para contestar o trabalho dele, né? E se até gostei a 80% do tempo, os outros 20% devem ser falha minha.
Ou não.
1 comentário:
Como sempre, achei o teu texto fantástico. Gosto de críticas com humor. Parabéns!
Cumprimentos cinéfilos
Enviar um comentário