Devia haver uma lei que obrigasse todos os realizadores portugueses a irem passar uns meses a uma escola de cinema americana, para aprenderem o que é a linguagem cinematográfica. Não quer dizer que se tornassem comercialóides, ou a seguissem, mas como os meus profs se fartaram de encher a cabeça, ‘é preciso saber como fazer para podermos fazer ao contrário’.
Porque o ponto forte deste filme é mesmo o domínio da linguagem, e a belíssima fotografia, e, é claro, um elenco de fazer chorar as pedras da calçada de tão bom que é. Primeiro que tudo, o inglês mal disposto de Robert Pugh (lembram-se dele decerto de Master and Comander) – rabugento, deliciosamente mal-educado, ahhhhh, e com sotaque britânico. Depois, Rita Loureiro como a pintora inconstante Irene, que desaparece a meio do filme. E Nuno Lopes, o serralheiro de estranhos hábitos mas que, apesar de tudo, sabe falar inglês – viva a globalização!
E pronto, uma história de ‘vamos morrer de bem com a vida’, ainda não perfeitamente desenvolvida (é o primeiro filme do rapazinho, temos de dar um simpático desconto[1]), que acaba num anti-climax que seria genial se não nos fizesse chorar por mais. Sim, depois do desaparecimento de Irene e até que eles se resolvam a pôr-se à estrada em busca dela (mas principalmente deles), há um tempo morto que, hum, devia ser mais curto. Sim, a parte mais divertida é sem dúvida os momentos ‘D.Quixote’ nas estradas desertas de Espanha.
As sequências oníricas estão muito bem feitas, com destaque para os momentos em que Alex (a personagem de Pugh) se farta de narrar sobre ilhas paradisíacas e vai fumar para o meio do vídeo, enquanto o casal apaixonado olha para ele. E o plano inicial (que só mais tarde saberemos ser o ponto de vista subjectivo de Bruno (Nuno Lopes), é.. tão… estrangeiro… (sendo este adjectivo um elogio).
Com música de Carlos Bica e Jaroslaw Bester, uma cinematogafia belíssima de Lisboa por Miguel Sales Lopes – afinal Lisboa não é azul, é laranja – e um ritmo que, mesmo nos tempos mortos já referidos, nunca nos deixa aborrecer – Goodnight Irene parece-me uma confirmação do renascimento da ‘terceira via’ do cinema português. Vá lá, ICA, não sejas mauzinho, dá-lhe outro subsídio.
[1] Quer dizer, ele tinha já feito uma coisa chamada The Curse of Marcel Duchamp, mas é uma curta. Nela Duchamp regressa dos mortos para punir pintores pretensiosos de Nova Iorque… uhhhhh….
1 comentário:
Hum.. interessante!
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