sexta-feira, janeiro 09, 2009

Australia (2008), Baz Luhrmann



É claaaaaro que alguém como eu tinha de ir ver este filme. O cheiro a epic chick flick era inebriante. E, mes amis, estamos a falar do Hugh Jackman. A cavalo. Com a camisola molhada. Coisas dessas não acontecem todos os dias. E mais, estamos a falar de um dos poucos realizadores dos quais eu vi a obra completa. Sim, os três filmes anteriores. Inteirinhos. Isto hoje pode não contar muito, mas daqui a 40 anos, quando ele tiver feito mais uns vinte ou trinta… ah pois é.

E passemos à parte irritante e desnecessária onde eu exibo os meus conhecimentos cinéfilos. Sim, o Senhor Luhrmann é um excêntrico. Sim, o Senhor Luhrmann é um megalómano. Sim, o Senhor Luhrmann tem um estilo tão distintivo que aposto que até os vídeos caseiros que ele faz dos seus filhinhos se devem topar a léguas. E sim, para quem veio à procura de um quarto volume na Red Curtain Trilogy ficou desapontado. Mister Luhrmann is no Douglas Adams, oh no. Mas Mister Luhrmann sabe o que faz. E poucos terão o descaramento de o fazer tão à grande como ele. E é tão inspirador ver um realizador jovem, australiano e bem parecido a lançar-se sobre o abismo com tanta confiança… que parece que todos torcem para que ele parta a câmara de vez. Porquê, porquê, porquê? Mauzinhos que vocês são, críticos maldosos do Mister Luhrmann…

Se vejo Mr. Emmerich como o sucessor endinheirado e talentoso de Ed Wood, tenho forçosamente de ver em Mr. Luhrmann um… hum… um Cecil B. Demille meets MTV. Para aí. Claramente.

Vejamos agora o filme com os olhos educados e super-analíticos de quem está prestes a entrar numa escola de cinema, e acabou mesmo ontem de ler o See Your Film Before You Shoot. Hum. Mr. Luhrmann claramente apontou para o épico emocionalmente estafante, senão vejamos:

- começa o filme ligeirinho, com a introdução da fofura que a personagem de Nullah, o ‘creamy’, é. Kidman aqui mais não é que uma caricatura de inglesa mimada (deuses, dêem-lhe um Óscar só pela sequência dos ‘kangoroos! They’re jumping! Look! They’re… AGAHAAHAHAHAH’), Jackman faz de homem sujo e vivido, Carnay, o rêi du Gádu (em brasileiro no original), o antagonista suprasumo, Fletcher, o pau-mandado sem um pingo de piedade ou vergonha. Até que…

…o filme vira de uma luta pela independência para uma história de amori e racismo…

… Fletcher surge como verdadeiro antagonista (deuses, a personagem é mesmo unidimensional, a encarnação do mal até aos últimos momentos)…

… o homem forte da coisa zarpa rumo ao pôr-do-sol e a mulher frágil põe tudo em jogo pelo seu instinto maternal…

…chega o momento Pearl Arbour que todo o realizador deve meter no currículo pelo menos uma vez na vida….

… reencontram-se todos, salvos e sem tragic flaws, e o filme ‘acaba’…

… o respeito pelos aborígenes vence tudo, até as mães galinhas, e acaba o filme, desta vez a sério.

Ora bem… porque é que o filme irrita tanta gente? Por ser longo? Não me venham com tretas. Nem chega às três horas E não tinha como único motivo de interesse o Daniel Day-Lewis oleado a berrar de um lado para o outro… Por ter momentos assumidamente e orgulhosamente ridículos (aka momentos de evocação Wizard of Oz?) Hum… claro que carros a transformarem-se em robots e a lutarem contra o mal NADA TÊM DE RIDÍCULO…

O que irrita as pessoas, acho eu do alto da minha insignificância (e convém despachar que isto já está a ficar grande e nem sequer mandei as chalaças do costume ainda) é que é um filme EMOTIVO. Ou seja, é um daqueles filmes para ir, viver a coisa deixando o lado intelectualóide de fora, e CHORAR. Tipo, sim, Gone With the Wind. Duh. Claro que se é um filme emotivo feito antes dos anos 50, é genial, é um clássico, é arrebatador. Se é algo recente, buuuhhh.

Duh.

Não digo que o filme seja, uau, é o MELHOR FILME DE SEMPRE!!![i] Não. Mas é bastante bom. Bom, ponto. E a embirração com a Kidman, donde é que veio isso? Deuses…

Pontos altos: a fotografia à la Luhrmann (que parece saída de um livro de fotos do século XIX e, no entanto, com uma atenção à cor…), a edição estilosa da senhora Dodi Dorn (que copiou uma ideia da antiga colaboradora de Luhrmann, Jill Bilcock, para a cena de sexo… não digo qual porque também tenciono inspirar-me livremente na coisa para uma curtazinha que está a ser editada de momento…), a emoção despudorada, Brandon Walters como Nullah, as sequências open field, a cena dos cangurus (fica para a história do cinema…), o romance, vá lá, as canções aborígenes, os ‘quatro’ finais diferentes, cada um a puxar mais e mais o elástico do espectador e os canais lacrimais…

Pontos, digamos, um bocadinho mais baixos: a evocação descarada do filme Pearl Arbour (se bem que, pensando nisso, será possível fazer uma cena do género de outra maneira?), a linearidade da personagem de Fletcher, o momento ‘disney’ com a canção do genérico final…

Resumindo e complicando: for the next movie, Mister Luhrmann, save me a chair, please. :D

[i] Porque será que me vêm à cabeça as imagens sobrevalorizadas de poços de petróleo à cabeça sempre que digo isto? Hum…

4 comentários:

Gustavo Fontes Ribeiro disse...

"Porque será que me vêm à cabeça as imagens sobrevalorizadas de poços de petróleo à cabeça sempre que digo isto? Hum…"
Provavelmente porque a crítica generalizada aplaudiu esta obra, porque não a compreendeste e porque isso te faz uma certa espécie!!!
Ah, o filme tem outra excelente performance do Paul Dano para além de outros secundários!!!! Sei que adormeceste, se calhar passou-te!
Estarás sempre a criticar negativamente o filme mas eu estarei aqui sempre para o defender, principalmente porque não adormeci e não perdi um grandioso filme eheh
Se voltares a ver o filme e continuares a detestar eu respeitarei a tua opinião, agora criticar sem ver o filme (porque ver partes não conta e como cinéfila devias sabê-lo)não dá, desculpa!

Filipe Machado disse...

Bom dia,

Envio esta mensagem com o intuito de dar a conhecer o meu recém-criado blog sobre cinema (http://www.additionalcamera@blogspot.com). Sou um amador por estas andanças, mas se lhe interessar o conteúdo do meu sítio, gostaria de receber o seu apoio para divulgá-lo, nomeadamente através da colocação de um link no blog que administra. Colocarei também o seu endereço na minha rubrica “Additional Cameras”.

O meu muito obrigado pela sua atenção!

Sem outro assunto de momento, desejo-lhe as maiores felicidades para o futuro!

Filipe Machado


P.S. – Participe na sondagem "Melhor James Bond com Sean Connery" até ao dia 31 de Janeiro 2009, em http://additionalcamera@blogspot.com.

LadyS disse...

Hum, Gustavo, o problema é que...

JÁ VI O FILME OUTRA VEZ. Todinho. Incluindo os 5 minutos que não vi e nos quais nada, aliás, salvou a minha opinião por outro lado. Acrescento que antes de o ver outra vez tive de explicar a história a pessoas que não adormeceram e, no entanto, não compreenderam aquela confusão dos gémeos e dos filhos e sei lá mais quê...

E continuo com a minha opinião, partilhada, aliás, por muito boa gente... por muito que a exagere só para chamar a mim a atenção. :D

(mas concordo contigo num ponto, o Paul Dano está excelente. Pena que esteja quase sempre a partilhar a cena com um búfalo de respiração pesada estranhamente parecido com o Day-Lewis...)

Começo a ter a vontade de falar mal do filme em TODAS as minhas críticas, só para me sentir lida... Hum... Just kiddin'. Obrigado pela atenção.

LadyS disse...

Se bem que, não desdenhando dos defensores de torchas e forquilhas do senhor P.T. Anderson, de quem apesar de tudo gosto muito do (anterior) trabalho dele, porque é que ninguém ainda apareceu bruto comigo pela linha sobre os Transformers, esse sim um filme que não vi? Porquê, porquê, porquê???