Eu casaria com ambos os Coen se pudesse. Eles são uma das minhas grandes referências sempre que tento pensar em termos visuais, em como contar histórias. Ninguém sabe fazer comédias negras como eles. Eu gosto de comédias negras por causa deles.
Por isso, gostaria de dizer que, mal soube que eles tinham um filme novo, corri aos cinemas a vê-los. Mas não. Fui arrastada pelo meu director de fotografia, mas pronto, não se pode dizer que ele tenha perdido muito tempo a convencer-me.
Todas as pessoas com que falei, que viram o filme antes de mim, disseram-me que o fim era um bocado... hum... fora. Eu pensei, do alto da minha imensa sabedoria e experiencia cinematográfica, esta gente não conhece a obra dos Coen! Eles fazem filmes com finais estranhos! Eles são os heróis do anti-clímax! Mas não é que dei para mim, quando os créditos finais começaram a rolar e as luzes do cinema se acenderam, a virar-me para o lado e exclamar: esqueceram-se de pôr o último rolo de filme! Isto não pode ter acabado assim!
Entretanto, no dia seguinte, chego à conclusão que, além de não ter atingido completamente o fim, também ainda estou para perceber o início (exibido num irritante 4 por 3 que me fez quase levantar e ir-me queixar ao projeccionista que estava a cortar os lados do filme).
Passada uma semana, começo a conformar-me com a minha sorte e resumo-me a gostar do filme sem reservas. Afinal, quem precisa de inícios ou fins? Exposição e resolução são sobrevalorizadas...
Baseado na história bíblica de Job (se bem que para mim, isso não adianta nada à história), cheio de referências judias e de humor negro, e repleto da mestria de storytelling dos irmãos (simples, mas conciso e eficaz... que nervos, como é que eles conseguem...) , passada, mais uma vez, nos anos 60. O quase desconhecido Michael Stuhlbarg é impressivo como Larry, se bem que nada paga o prazer de ver Fred Melamed, um habituée de Woody Allen, anunciar, com a sua voz calma de Sy, 'It's gonna be fiiine', vezes sem conta, com os seus abraços.
Interessante também é o paralelo estabelecido entre o pai sofredor e o filho que perde o seu walkman para o Rabi (e sim, as palavras do Rabi são memoráveis). Claro que estamos mesmo a falar de história do Cinema ao mostrar a cerimónia de Mazel Tov pelos olhos de um adolescente sob o efeito de drogas... acrescente-se um tio que passa a vida na casa de banho com um problema de jogo, Rabis que nada devem à Bola Divinatória e, claro, um momento inesperado de deus ex machina no fim... e temos um filme que fica bem entre os filmes menores dos Coen, bem acima de Burn After Reading mas, claro, bem abaixo de The Big Lebowsky e No Country for Old Men. Sinceramente, não me importa. Ver um Coen, como olhar para um Rembrandt, é uma lição em si mesmo. E eu estou sedenta de inspiração.
PS: Sim, Roger Deakins é um senhor, até parece que era preciso dizer outra vez... e uma óptima banda sonora, duh. Óbvio.
Por isso, gostaria de dizer que, mal soube que eles tinham um filme novo, corri aos cinemas a vê-los. Mas não. Fui arrastada pelo meu director de fotografia, mas pronto, não se pode dizer que ele tenha perdido muito tempo a convencer-me.
Todas as pessoas com que falei, que viram o filme antes de mim, disseram-me que o fim era um bocado... hum... fora. Eu pensei, do alto da minha imensa sabedoria e experiencia cinematográfica, esta gente não conhece a obra dos Coen! Eles fazem filmes com finais estranhos! Eles são os heróis do anti-clímax! Mas não é que dei para mim, quando os créditos finais começaram a rolar e as luzes do cinema se acenderam, a virar-me para o lado e exclamar: esqueceram-se de pôr o último rolo de filme! Isto não pode ter acabado assim!
Entretanto, no dia seguinte, chego à conclusão que, além de não ter atingido completamente o fim, também ainda estou para perceber o início (exibido num irritante 4 por 3 que me fez quase levantar e ir-me queixar ao projeccionista que estava a cortar os lados do filme).
Passada uma semana, começo a conformar-me com a minha sorte e resumo-me a gostar do filme sem reservas. Afinal, quem precisa de inícios ou fins? Exposição e resolução são sobrevalorizadas...
Baseado na história bíblica de Job (se bem que para mim, isso não adianta nada à história), cheio de referências judias e de humor negro, e repleto da mestria de storytelling dos irmãos (simples, mas conciso e eficaz... que nervos, como é que eles conseguem...) , passada, mais uma vez, nos anos 60. O quase desconhecido Michael Stuhlbarg é impressivo como Larry, se bem que nada paga o prazer de ver Fred Melamed, um habituée de Woody Allen, anunciar, com a sua voz calma de Sy, 'It's gonna be fiiine', vezes sem conta, com os seus abraços.
Interessante também é o paralelo estabelecido entre o pai sofredor e o filho que perde o seu walkman para o Rabi (e sim, as palavras do Rabi são memoráveis). Claro que estamos mesmo a falar de história do Cinema ao mostrar a cerimónia de Mazel Tov pelos olhos de um adolescente sob o efeito de drogas... acrescente-se um tio que passa a vida na casa de banho com um problema de jogo, Rabis que nada devem à Bola Divinatória e, claro, um momento inesperado de deus ex machina no fim... e temos um filme que fica bem entre os filmes menores dos Coen, bem acima de Burn After Reading mas, claro, bem abaixo de The Big Lebowsky e No Country for Old Men. Sinceramente, não me importa. Ver um Coen, como olhar para um Rembrandt, é uma lição em si mesmo. E eu estou sedenta de inspiração.
PS: Sim, Roger Deakins é um senhor, até parece que era preciso dizer outra vez... e uma óptima banda sonora, duh. Óbvio.
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