Os óscares de Melhor Filme Estrangeiro são possivelmente os únicos com alguma isenção, já que os produtores não têm dinheiro para engraxar os membros da Academia. Outra coisa boa desta categoria é que o filme que ganhar tem fortes possibilidades de passar na Lusomundo, ao contrário do muito bom cinema que nos passa ao lado por causa dos estúpidos dos exibidores.
Temos aqui mais uma historiazinha da Segunda Guerra Mundial, etc etc etc. Mas com o seu quê de originalidade, graças aos deuses. Porque o protagonista não é um patrão alemão que tem pena dos judeus, nem um pianista judeu a fugir dos alemães, nem a própria encarnação do demo aka Adolfo Hitler.
Nada disso. Os Falsificadores (tradução portuguesa) conta-nos a história de uma das maiores – adivinhem – falsificações da história. Os nazis decidiram conquistar o mundo inundando os países inimigos de dinheiro falso, fazendo as economias colapsar.
O nosso protagonista anti-heróico é um judeu biblicamente chamado Salomon, mas todos lhe chamam Sally – o que é um bocado abichanado, mas pronto. Ele goza de altos talentos no submundo do póker e casas de jogo em geral, fazendo uns biscates como falsificador de documentos. Entretanto, para a história poder desenvolver, ele é apanhado e levado para um campo de concentração. Ao exibir as suas fantásticas qualidades, os alemães depressa o transferem para uma coisa bastante parecida com um resort de férias no meio de um campo de concentração – com mesa de ping pong e tudo. Entretanto, um tipo chamado Adolf Burger tem lampejos revolucionários e faz tudo o que pode para sabotar a operação de dentro. Sally tem alguns problemas de consciência – prolongar a sua vida e a dos seus companheiros ou não colaborar com o inimigo – mas…
Primeiro que tudo, o aspecto técnico como sempre. O senhor Ruzowitsky utiliza a ‘velha’ técnica de steady cam, o que não é usual neste género de filmes (e temáticas). Quer dizer, este género de filmes tem sempre um estilo clássico. Mas não. Quer dizer, não é o Bourne Ultimatum, mas percebem o que quero dizer…
Depois, os actores. A fazer da minha homónima Sally temos Karl Marcovicz. A cara dele não vos é estranha? Pois. Pensem naquela série fantástica cujo título original era Komissar Rex. Exactamente…
Ele faz um papelão. Toda a ambiguidade da personagem – nem no fim percebemos se ele está a tentar salvar a pele ou tem algum tipo de consciência universal pelo que se passa à sua volta (ele sabe – há um momento no jogo de ping pong que matam um judeu mesmo do outro lado da parede de madeira…)
Também muito bom é August Diehl, como Adolf Burger. Tão bom que há momentos em que só nos apetece dar-lhe porrada. Ok, estão a ajudar os nazis, mas então e o companheirismo, ahein?
Grandes momentos – as festas no campo de concentração, esse tal momento do jogo de ping pong, a maneira como a história começa no fim, com Sally e a mala de dinheiro, mulheres à disposição até que ela descobre o código de barras no braço… Menos bom? Não me lembro. Mas também sou um pouco suspeita em filmes sobre a II Guerra Mundial…
Grande trabalho de fotografia por Benedict Neuenfels, suíço. O ar sujo de tudo, mas ao mesmo tempo não completamente cinzento… muito bom.
Pronto, e não vi os outros nomeados, mas sim, um novo clássico, como berra o IMDB.
2 comentários:
Uma história bem desenhada. Os actores, apesar de desconhecidos para a maioria dos portugueses, actuaram de forma muito competente dando à narrativa a dramaticidade necessária para compreendermos um pouco do que foram aqueles anos que não deveriam ter acontecido...
8/10.
Sem dúvida. Não deixa de ser reconfortante que não se tenha limitado a 'mais um filme sobre a Segunda Guerra Mundial', mas apostado muito na componente - penso que inovadora e ousada - nem todos os judeus assassinados eram coitadinhos que não faziam mal a uma mosca... estereótipos 'positivos' não deixam de ser estereótipos...
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