O senhor de Disponível para Amar volta com aquilo que foi em Cannes apelidado de ‘desastre’.
Mas quem quer saber da opinião dos franceses para alguma coisa?
A premissa com o cast mete um bocado de medo: Norah Jones e Jude Law, Rachel Weisz, Natalie Portman (ok, nem todos são imediatamente associados a ‘elementos de desaste’…), numa história – pensamos nós – de amor e de procura, com muita tarte de mirtilo à mistura.
A banda sonora (que aproveita algum repertório da protagonista) envolve-nos como um tépido banho quente, em nuvens vaporosas de odor a pãezinhos quentes e pastéis acabados de fazer…
Não, Norah Jones não é a melhor actriz do mundo, mas safa-se muito bem. A sua cara – aliás, a maneira como o senhor Wong filma a cara dela – dão-lhe um ar exótico, oriental, mirtilado. Jude Law é Jude Law, com uma ligeira evocação da personagem Alfie (se bem que tão diferentes…) Rachel Weisz como vadia incompreendida é a minha personagem preferida, de longe. E Natalie Portman – não é Ana Bolena aqui, não senhora. Bom sotaque. Quase irreconhecível, diria eu, que tenho má memória para caras. E claro, o senhor (?) é genial.
A narrativa nem que é assim tão previsível como seria de esperar. Ok, um final fechado, mas reparem na arte de acabar o filme antes de começar a estragar a coisa!
Porque o verdadeiro protagonista do filme é, como sempre, Wong Kar-Wai. As suas cores saturadas e mornas, o seu fascínio pelas luzes da urbanidade, os planos voyeuristas de fora da montra (no início, enquanto não somos formalmente convidados a entrar na história), o jogo formal com a câmara da loja (que mostra uma das lutas mais interessantes dos últimos tempos, no cinema – quer dizer, mostrar não é a palavra certa – o que pode levar a reflexões interessantíssimas sobre a contemporaneidade e as câmaras de vigilância, etc, etc, etc), os campos-contracampos com enquadramentos pouco usuais o uso profuso do freeze, slow motion, fast-foward e filtros, sem parecer um formalista oco…
Não posso pôr as minhas mãos no fogo sobre a qualidade dos outros filmes do senhor – só vi um. Mas todos insistem que esta é uma obra menor. Se é, tenho mesmo de ver mais filmes dele.
Bem… sabem, acho que o problema não é do filme em si. (muito americano para o gosto dos fãs, tenho por aí ouvido dizer). É como as tartes, parece-me. O cheesecake acaba sempre. O bolo de chocolate está quase no fim. E ninguém pede tarte de mirtilo. Não quer dizer que ela não preste, ou que as outras sejam melhores. As pessoas é que fazem outras escolhas…
1 comentário:
olha.. não vi o filme, mas acho que a minha mãe e o meu mano iam gostar. por quê?! porque tem tartes de mirtilo! LOL
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