India, India, Índia… nos anos 60 a Meca dos Músicos, agora o must-go-and-shoot dos realizadores… Ah, a polémica, ah as nomeações, ah os globos de ouro, ah… o Óscar?
Faltam-me ver dois, mas acho que não. Mas é um claro caso de overrated? Não. É bonzinho? Mais que bonzinho, receio dizer. É muito bom mesmo. Não excelente, mas lá perto. E um feel-good movie, que é uma coisa cada vez mais rara. Senão vejamos os outro quatro nomeados – quantos deles acabam com o protagonista vivo e de bem com a vida? Pois.
Boyle começou muito antes de Meirelles a filmar o lado ‘negro’ das cidades, portanto não me venham com tretas. Ai é colorido demais? Glorifica a coisa? Exagera? É um filme que acaba com toda a gente a dançar na estação de comboio, não é propriamente Jean Rouch… E é sempre bom e reconfortante termos duas horas e tal da versão indiana de um concurso televisivo que até que gostamos, com o plus de não estarmos a olhar para o Jorge Gabriel a encher chouriços. Ou o Malato. Deuses, imaginem este filme com o Malato a apresentar o programa e, sei lá, um coitadinho jovem dos Morangos com Açúcar a fazer de slumdog… Ouch, espero que o senhor Alexandre Valente nunca leia estas linhas senão…
Mas voltando ao filme, narrativamente falando, está muito, muito bem feito. Temos os flashbacks do costume, explicações da suposta sabedoria do nosso amigo Jamal. Temos amor, temos dinheiro, temos a ambição do ‘irmão mau’, temos tiros, explosões, perseguições de carro, efeitos especiais, extraterrestres…. desculpem, nem por isso. Temos uma história certinha, sim, com tudo para resultar (ingredientes secretos incluídos), bons actores (ou deveria dizer boa direcção de actores, uma vez que muitos deles não tinham experiência prévia?), bom uso da música (nada a que não estejamos acostumados com Boyle), composições formais desniveladas (marca de autor e tal, muito bem, senhor professor), fotografia saturadíssima pelo senhor que já nos dera Dogville e a carta de apresentação do Dogme 95, Festen, - fixem o nome dele - Anthony Dod Mantle, mas deliciosa (sem chegar aos extremos coloridos de Darjeeling Limited), qualquer coisa de muitos filmes diferentes ao mesmo tempo que não conseguimos identificar tudo, e sim, Dev Patel que é tão bom que estou aqui a ver se arranjo a série em que participou, Skins, como se eu já não tivesse suficiente para ver no meu disco externo…
Grandes momentos: a queda no poço de mierda para conseguir um autógrafo (as grandes personagens de Boyle caem sempre dentro da sanita, literalmente), a nossa descoberta da love story inerente à coisa, o passar do tempo no comboio, a chegada ao Taj Mahjal, o miúdo cego que canta, todos os momentos dentro do programa, incluindo o momento confessional de casa de banho do apresentador (e mais não digo porque não me apetece escrever spoiler alert); a complexidade da personagem de Salim; o momento Bollywood final na estação de comboios.
Menos bom: aquilo ao início parece um excerto do ‘24’, a qualquer momento pode entrar o Jack Bauer por ali adentro; ou sou uma insensível (bastante provável) ou o filme – e o final, principalmente - não é assim tão comovente como me fizeram crer; será que é desta que um filme com um final feliz ganha o Óscar, ao fim de tanto tempo de filmes infelizes? Hum, pouco provável. E lado Bollywood poderia ser mais explorado, mas isto sou eu, que tenho um cd de músicas indianas de fundo enquanto escrevo isto.
Portanto, sim, original e diferente do que estamos habituados – parece-me que este é o indie substitute deste ano – mas, apesar de estar quase a meter as mãos no fogo que o Professor Boyle vai buscar a estatueta que eu ambiciono ter um dia por cima da lareira, não me parece que os produtores do filme tenham a sorte de subir ao palco… mas isto sou eu, que raramente acerto…
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