sábado, junho 27, 2009

Lat den rätte komma in (2009), Thomas Alfredson

Foi há muito, muito tempo que fui ver este filme ao cinema. 9 libras da minha vida (mais ou menos). E posso dizer que me lembro da coisa como se tivesse sido ontem. As imagens bem fortes de Alfredson arranjaram maneira de ficarem gravadas na minha mente durante... sete meses?

Sim, mais um filme de vampiros. Mas este é bem diferente de Crepúsculo.Muito, muito diferente. Terrivelmente diferente. Primeiro que tudo, é um filme europeu. Compassado. Com um uso da neve da fria Suécia exímio, quase que sentimos o frio sentados na audiência. Depois, os seus dois actores principais, Kare Hedebrant como o bullied Oskar e a incrível, inesquecivel, quero-trabalhar-com-ela, olhar impressivo Lina Leandersson como Eli, o estranho vampiro que mora na porta ao lado. Ou vampira.

Há muita pouca conversa durante todo o filme, pequenos momentos de construção dramática impressiva (o significado do cubo de Rubik, os pequenos actos de Oskar) e alguns efeitos especiais que, embora raros, impressionam vivamente por irromperem num mundo aparentemente tão normal apesar de sombrio - lembro especialmente a cena em que a cama de uma recém-vampira se incendeia com a luz do sol.

A direcção de fotografia é de babar durante toda a duração do filme, os planos com espelhos geniais ao ponto de terem sido o meu tema de conversa com um fellow filmmaker durante os 15 minutos imediatos a termos acabado de ver a coisa, a maneira sóbria de filmagens - que atinge quase um orgasmo na cena final na piscina - só mostra que estamos claramente perante um realizador de respeito, sem explosões nem purpurina, e que claramente sabe contar histórias que nos atingem com uma veemência inesperada, diria eu. Eu faço questão de estar na sala no próximo filme deste senhor, sem sombra de dúvida.

E a música... a música é daquelas coisas que me faz estar grata por ter assistido a isto numa sala de cinema decente, com um bom som. O que Soderqvist faz com a banda sonora é visceral, parece brotar naturalmente da fria neve que vemos no ecrã. Sem nunca se sobrepor. O que é divinal.

A história provoca discussões, tem um final aberto, há tanta interpretação como pessoas. Passeando-me por fóruns deparo-me com coisas que nunca tinha pensado. Eu vejo o filme como uma estranha história de amor. Há quem o veja como uma amizade, uma metáfora, um novo caminho para o género de filmes de vampiros. Só há um consenso: este filme conseguiu um lugar na prateleira dos clássicos. Sem espetar dentes no pescoço de ninguém.