quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Atonement (2007), Joe Wright



Há muito, muito tempo que um trailler não me despertava tanta vontade de ver um filme. Compreenda-se: a música de Dario Marianelli deixa qualquer ser com um pingo de sensibilidade artística completamente hipnotizado. O uso da máquina de escrever como instrumento musical… Isto numa música deliciosamente tonal, mas que roça o wagneriano em alguns momentos… Mais, a fotografia belíssima que o trailler deixa entrever, as cores, a patine discreta da imagem (sim, Joe Wright nasceu para fazer adaptações Jane Austen e afins, e desde quando é que isso é uma coisa má? Ele reinventou o filme de época, temos de dizê-lo sem vergonhas).

Ora, apesar de tudo o trailler diz muito pouco do filme. What? Sim, muito pouco mesmo. Mais: engana-nos. Ilude-nos. Intriga-nos, supostamente responde-nos, mas afinal dá-nos a volta que nem uns tolinhos.

História? Briony, miúda de 12 anos, surpreende umas interacções românticas entre a irmã Cecília e Robbie, o filho quase médico da governanta – e sua paixão platónica, acrescente-se. Por despeito, por vingança, ou por má interpretação, mete Robbie num belíssimo sarilho, que irá separar Cee do seu amor durante muito, muito tempo, destruindo qualquer possibilidade de felicidade para os três. Porque a cabra ingénua que é Briony resolve estragar também a sua vida em consideração para com a irmã. E depois a guerra. E depois o reencontro, a hora da verdade. E depois… o livro.

Atonement é muito mais que uma história de amor. É uma meditação profunda sobre o que significa o arrependimento e – como é que os idiotas dos críticos portugueses permanecem cegos para algo tão gritante – uma reflexão artística sobre os limites morais da ficção. E se podemos achar que, inicialmente, a opção em dar-nos a ver o ponto de vista de Briony primeiro, depois o que realmente se passou, é um pouco, como dizer, ‘piroso’, quando chegamos ao fim percebemos que devíamos ter mais cuidado com os pontos de vista que nos atiram para os olhos.

Há quem acuse o filme de estar bem filmado demais, o que me dá uma vontade imensa de rir. Que raio de critério é esse? Wtf? E comparar aquele que estou certa se tornará um marco na história do cinema, nem que tenha de ser eu a escrevê-la (já era tempo de uma mulher se propor a isso, para vingar injustiças com géneros ditos menores por uma cambada de estudiosos falocântricos e patriarcais) a um ‘telefilme’ – João Lopes, mas que raio de coisa. Um telefilme é uma coisa assim tão asqueirosa (e digo que não concordo mesmo nada com a comparação, apenas saída de um preconceito enorme para as adaptações de ‘romances’ com protagonistas mulheres, sobretudo)? Bem filmado demais? Exibicionismo técnico? Jorge Sauron Mourinha aposta nesta linha. Hum… ter-se-á enganado na sala e ido ver o Elizabeth II? Isso sim é exibicionismo técnico – mesmo que queiramos só estamos a ver a câmara a mexer, mexer, mexer, olhem que bem que mexo a câmara. Agora a técnica de Atonement – primeiro, nem é assim tão gritante, se exceptuarmos o plano-sequência na praia de Dunkirk. Depois, toda a técnica é justificável pelas exigências narrativas. Eu sei que em Portugal há um certo analfabetismo voluntário das técnicas narrativas hollywoodescas tidas como ‘o Demo, Senhor dos Infernos da Ilusão Cinematográfica e do Entretenimento’, mas noutros países, a câmara funciona como se fosse, digamos, uma caneta, que adjectiva e faz metáforas com a imagem. Oh, entramos no filme, que está belíssimamente construído, banda sonora soberba, imagem linda, linda, linda, e não bocejamos uma única vez, nem olhamos para o relógio. Credo, deve ser terrivelmente mainstream e apelativo às massas incultas! Vamos exorcizá-lo com uma bolinha preta e chamá-lo de piroso! Vade Retro cinema que ganha globos de ouro!

Uf!

(lady sara c, defensora dos filmes em que apenas o tempo provará que até tenho razão algumas vezes)

De novo ao filme. Mais uma vez, obrigada a falar da banda sonora. A interligação do som diegético com a música de Marianelli parece-me um dos mais perfeitos até hoje realizados. Quanto ao tal plano-sequência de tal forma genial que ninguém consegue atacá-lo directamente, preferindo dizer que nem parece do filme, foi inserido a martelo – deuses, são uns 5 minutos de Steadycam a levar-nos por entre um cenário desolador, queriam que continuassem os tons amarelos, e as coisinhas bonitas? Seria ridículo. (mais uma vez no plano-sequência se vê o poder da banda sonora, quando nos aproximamos dos soldados a cantar em direcção ao mar)

Actores: palmas para as três intérpretes de Briony, uma personagem poderosíssima, sobretudo na sua versão infantil (Redgrave destoa um bocado das três, mas perdoamos-lhe porque 1º é uma excelente actriz, e não desilude 2º, dá-nos a Briony verdadeira. Keira Knightley estranhamente sensual no seu vestido verde, ar snob e sotaque, bastante bem (o que é perigoso, porque podem pensar que ela só sabe fazer este tipo de personagens feministas q.b.); James McCavoy, hum, mudança extrema entre o despreocupado Robbie e o soldado demente (assustador neste momento); verdadeiramente detestável e por isso promissora rapariguinha que interpreta Lola, a prima do Norte.

Por fim, falemos do realizador. Quem viu o filme anterior, Orgulho e Preconceito, sentiu que estava ali qualquer coisa, mas que ainda raspava muito à superfície, muito comedido, pouco ousado (é que nem um beijito durante o filme todo), e tirando Knightley, todos pareciam figuritas de cartão. Agora… agora estamos perante uma Gesamtkunstwerke. Será Wright uma reencarnação de Wagner? Será que alguém vai ter vontade de invadir a Polónia no fim de ouvir Marianelli?

De vontades, só de esperar ansiosamente o próximo filme do senhor. E afirmar aos quatro ventos que estamos perante um clássico. E lembrar aos senhores críticos que E Tudo o Vento Levou tem muito mais de telefilme que este, duh, e nada o impede de ser bom na mesma. Frankly, my dears… f*uck them.

Cassandra's Dream (2007), Woody Allen

O fim da trilogia londrina. Uma cidade chuvosa que acolheu Woody Allen como seu filho, e, a julgar por Match Point (um dos momentos altos da carreira, digam lá o que disserem), o regresso a uma fase inspiradíssima, com uma nova musa: Scarlett Johannson.

Ora, ao contrário de muitos, eu sei que o senhor Woody é só humano, e como tal não espero que ele me surpreenda todos os anos com masterpieces porque, caso não se lembrem, nem o Ingrid (Bergman) fazia isso. Nem ninguém.

Defendo o direito dos pobres realizadores a sentirem-se menos inspirados. E sim, Cassandra’s Dream é um filme menos inspirado, mas não deixa de ser: 1. do Woody Allen, o que é muito melhor que ser um mau filme, digamos, do Spielberg; 2. comestível. Porque isto de considerar que é um filme abominável só porque antes há a luz brilhante de Match Point… percebe-se que as expectativas talvez estivessem altas demais, mas prejudicar o filme per se por isso… não me parece justo.

Falemos do filme, então. Dois irmãos – interpretados por Colin Farrell e Ewan McGregor – querem ser ricos. A oportunidade para isso surge de uma forma… hum… pouco moral. E eles buga (intervêm aqui também coisas como o valor do sangue, tudo pela família, nada contra a família, etc). Depois – um deles arrepende-se. E tcharam.

No fundo, no fundo, este é o outro lado de Match Point (será por isso que tanta gente ficou desiludida?). Ou seja, o crime e a ambição, neste filme, não compensam. Ohhhh. Moralidade barata, portanto. Tenho de confessar que é tudo muito tragédia grega, muito castigo dos deuses etc, e que por isso tem um travozito a banalidade.

Música? Philip Glass!!!!! Sim, sim, sim. Tercinas para cima e para baixo, a inexorável força do destino, yeah. (devo dizer que não sabia disto antes de ver o nome nos típicos créditos iniciais, e dei gritinhos de alegria que puseram todo o público a olhar para mim desconfiado).

Colin Farrell surpreendentemente óptimo actor, dos olhos inquietos às unhas sujas (interpreta a personagem de um mecânico), e é para mim (que, como digo sempre, não sou ninguém nestas coisas) a mais valia do filme. Já Ewan McGregor podia estar tão melhor que não sei se lhe perdoo. (é uma personagem que não perdia nada por mostrar mais complexidade, e isso antes da cena final no ‘Cassandra’s Dream’, o barquito dos irmãos).

Mais… a técnica não está nada de especial. Quer dizer, não há aqueles deliciosos planos-sequência à la Allen, o que me fez suspirar. Ai… Só campo e contra-campo, e não, isso não é o estilo Woody habitual. Vejam bem os filmes anteriores dele. Bem, bem. Vêem os belíssimos planos-sequência? Cadê deles neste filme? Pois.

Será que a ausência de Johansson justifica esta desinspiração? Sou levada a crer que sim. De qualquer modo, Woody já trocou a cidade do smog pela do Gaudí, e só espero é que se lembre de dar uns saltinhos grandes aqui ao país vizinho. Filmar, quiçá. Se bem que com a sorte que eu tenho, vou estar do outro lado da Mancha quando isso acontecer. Argh.

Não acho que isto seja o início do fim. Repito: todos temos o direito a ter dias menos inspirados, incluindo essa sumidade que é o Sr. Allen. Ele anda a repetir temas? Ouvi dizer que isso se chama marcas de autor. Por muito estúpido que seja, se calhar é isso mesmo. Nem sempre nos caem bem, pelos vistos. E falando nisso, onde estão os one-liners citáveis?

Bom momento: após um acontecimento trágico, as duas cunhadas fazem compras descontraidamente, falando de futilidades – um dos raros momentos allenescos, realmente, de ironia trágica.


Volta Woody Allen, estás perdoado.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Alvin and the Chipmunks (2007), Tim Hill


Nada como começar o ano a ver animação. Dobrada em português. Com esquilos falantes. E não, não é um pesadelo.

A animação não é, tenho disso a certeza, um género menor. Os idiotas que dobram os filmes em português deviam era ser queimados em grandes fogueiras. Sim, tenho a convicção que o filme seria menos irritante (quiçá até engraçadito) se não parecesse um episódio manhoso do Dawson’s Creek. Argh….

História? Ok. Três esquilos cantores são levados para a grande cidade numa árvore de Natal. Encontram um compositor frustrado e.. voilá. Revolucionam a carreira dele, ajudam-no a recuperar a namorada e a assumir responsabilidades – os esquilos funcionam aqui, a nível psicanalítico, como filhos do tipo.

Mas como em todos os filmes para crianças, há um mauzão que destrói a felicidade familiar e leva os esquilos em digressão, injectando-lhes grandes doses de cafeína para que eles se aguentem em palco. Também os veste com roupas de rappers mafiosos, com bailarinos atrás e coiso e tal. MTV zoolófila. Ai a indústra da música, o demo o demo, viciadões em café. (aqui não é preciso traduzir, pois não?)

Tudo acaba bem, em mega concerto coiso e tal. Muito natalício. A música dos esquilinhos existe há uns bons 20 anos. Tenho-a em vinyl, para terem uma ideia.

Bem….

A junção de animação com a imagem resulta bastante bem (apesar de ser três Dê), e os esquilos são fofinhos e adoráveis e temos muita pena que eles estejam a ser explorados porque são crianças e coiso e tal e tadinhos e estão quase a ser salvos e, surpreendente, foram salvos mesmo no último minuto e tudo ficou bem.

Eu tenho uma certa idade, meus caros. Vi uns quantos filmes. Filmes de Bem e Mal já não resultam lá muito bem com a minha mente complexa e sofisticada. Se bocejei durante o filme? Não. Mas os estereótipos irritam-me um bocado. E não estou a falar do eufemístico mundo do rock. Estou a falar da treta do adulto criança que não sabe assumir responsabilidades. Quer dizer… Quantos filmes já fizeram com essa premissa? Não chega? Não serão já demais?

Estão a lavar o cérebro às criancinhas. Não sei se elas deixarão assim tão facilmente. Espero bem que não.

Quanto ao aspecto artístico do filme… Demasiado visto. Premissa interessante, os esquilos cantores. Não há problematização de serem esquilos falantes, quanto mais o cantarem. Mas vejamos o lado positivo: vozes de hélio a cantarem músicas de Natal é engraçado. Girinho mesmo.

Momentos que até prometiam? Nem me lembro. Deviam arranjar um novo sistema de classificação para os movies. Assim como há maiores de 18, sugiro que criem a classificação ‘menores de 18’. Por favor. Pelo bem público. E meu também.
(uma crítica desinspirada, eu sei. Tanto ou menos que o filme em si.)

Hot Fuzz (2007), Edgar Wright


Eles estão de volta….

Há três coisas fantásticas na Grã-Bretanha (pelo menos). A primeira é o príncipe William. A segunda é o sotaque. A terceira é a comédia.

Porque ninguém é tão refinado em termos de humor do que os ingleses. Uma coisa é certa – ou se ama ou se odeia. E não há dúvidas que eu tenho grande orgulho em me inserir na primeira opção…

Depois de Shaun of the Dead (uma paródia poderosíssima aos filmes de zombies, aclamada pelo próprio Romero, e que teve a estranha tradução em português de MoZombie Party: Uma Noite de Morte), Simon Pegg e o seu amigo cheinho (os novos Bucha e Estica, mas com estilo –e sotaque) vêm dar um novo ar da sua graça, desta vez aos malfadados filmes de acção, mais concretamente ao buddy movie.

As marcas de autor estão lá (sim, leram bem, marcas de autor): os cornetos, o estilo, o pub. Desta vez o problema é ( nome da personagem), um polícia de Londres que cumpre o seu dever bem demais e é por isso destacado para uma vilazeca da província, daquelas em que nunca acontece nada de interessante. Ou assim seria de supor. Mais que os jovens que grafitam, prejudicando a nomeação da vila à melhor vila da Grã-Bretanha, o super-polícia (ajudado por um reticente amigo, (nome da pers. aqui), irão desvendar uma conspiração poderosíssima e ter de batalhar para restabelecer a paz. Qual Máfia qual carapuça – nunca um mini-mercado escondeu tantos esqueletos nas prateleiras.

A música é completamente kitch, aliás, por dar a volta, camp (desculpem os termos pretensiosos mas tenho de usá-los para não os esquecer. Além de vos dar a oportunidade de usar o google para alguma coisa mais além de procurar pornografia). E com uma montagem xpto (lê-se xis-pê-tê-ó, e em termos leigos significa que os meninos sabem usar o Avid a sério), que cita inúmeras cenas dos filmes do género (filmes que estão presentes, aliás, de forma escarrapachada, nos filmes que os dois amigos alugam para ver, e que lhes servirão de inspiração para o grand finalle), desde… eu até explicava, mas isso estragaria a piada, acho eu.

Que dizer de Simon Pegg, além de eu apostar as minhas sapatilhas preferidas (e muito, muito maltratadas) que mais uns anitos e se tornará uma referência, digamos, ao nível de Rowan Atkinson, Eddy Lizard e, heresia heresia, Monty Python? Aqueles olhos albinos, cabelo louro à escovinha, corpo bem tratado, sotaquezinho britânico… se não fosse a existência do Clive Owen, não me escapava.

O seu amigo, compincha - Nick Frost – faz genialmente um boneco de pessoa sem ambições (novamente, mas faz tão bem que não me vou queixar pela repetição… por enquanto), mas é obviamente um sidekick, que não estou a ver a resultar sem estar ao lado de um Pegg. Estou enganada? Espero que sim.

Grandes momentos do filme – Explosões. Nós de cinema adoramos explosões. Principalmente aquelas completamente gratuitas, de grande estrondo a explorar toda o sistema de colunas Dolby Surround, filmadas em multi-câmara, e que ficam tão, tão lindas em laranja e amarelo, como se fossem nuvenzinhas fumarosas e morninhas. Hummmmmm…. Depois, o que acontece ao mauzão da fita é também de uma perversidade fofinha. (eu estou numa fase de diminutivos, porque estou bem disposta. Não, não é o relógio biológico a dar horas. De maneira nenhuma).

Momentos menos bons? Não me lembro de nenhum assim flagrante. Não sei porquê, não teve tanto impacto em mim como Shaun of the Dead, mas presumo (porque sou presumida) que isso se deva à minha incredulidade e ignorância quando vi o primeiro. Agora já sabia para o que ia. E não fiquei desiludida. Sim, apesar de não ter o Clive Owen aos tiros, não me pondo assim as hormonas aos saltos, é uma comédia bem feita, britanicazinha, e que abre o apetite para receber o que venha a seguir daqueles lados Peggianos. Ouvi dizer que agora vai ser um projecto sério. Medo, muito medo? Nem por isso. Curiosidade.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

The Golden Compass (2007), Chris Weitz

Dos produtores que vos trouxeram O Senhor dos Anéis… eis um filme com… uma Bússola!

(há campanhas publicitárias que me ultrapassam, realmente)

Eis mais um filmezinho na linha do Nárnia (medo, muito medo), e Harry Potter e assim. Adaptação da trilogia de Philip Pullman, mas ainda não sabem se vão fazer os outros dois filmes. Os meus amigos do IMDB nada dizem sobre isso. Hum…

Ora, e se eu vos disser que o filme não é mau de todo? Sim, um filme sobre mundos paralelos com animais falantes e realizado pelo sr. Chriz Weitz (que devem conhecer por ter feito… o primeiro American Pie) até que é das melhores coisitas de fantasia que tem aparecido nos últimos tempos?

Comecemos pela história, tirada do senhor Pullman. Há uma miúda que é uma espécie de ‘escolhida’, e sabe ler o aleteómetro (aka bússola dourada armada em Professor Kimbaça), e que dá pelo nome de Lyra. Essa Lyra tem um tio todo lindo e barbudo interpretado por Craig, Daniel Craig, que afinal não é tio nenhum, e que estuda a poeira entre os universos paralelos. O Magistério (enorme piscadela de olho à Igreja Católica, que não caiu nada bem nos sectores mais conservadores americanos) nega a existência de tal coisa – heresia, heresia – e trabalha em segredo com uma femme fatale Mrs. Coulter (Nicole Kidman, talhadíssima para o papel) para acabar com o lado divertido daquele mundo. Isto porque todos têm um ‘demónio’ pessoal, um animalzinho que reflecte de alguma maneira a personalidade da pessoa. Os das crianças mudam constantemente (o de Lyra é uma alegria, de gato para esquilo e etc), e para matar alguém é preciso matar esse demónio.

Todo este conceito tem potencial, não acham? E o filme está muito bem filmado (Weitz não se espalhou uma única vez apesar do Money, Money que esteve por trás disto tudo). Os animais falantes estão bem feitos, CGI do caraças (o que é refrescante, ver que afinal sabem usar a tecnologia em condições), e Dakota Blue Richards é uma revelação estrondosa, e que esperamos ver mais vezes por aí.

Momentos a guardar: os dirigíveis, Pantalaimon (o demónio de Lyra) a mudar de forma, as cenas na ‘reserva’ de crianças (laboratório maléfico), a luta de ursos polares, e sim, toda a construção de um universo que costuma falhar em coisas deste género.

Menos bom: o final. Pelos vistos guardaram o fim do livro para começar o segundo filme, o que nos dá uma coisa à papo seco, tipo novela to be continued. O que, se não fizerem o segundo filme,… Argh.





sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Enchanted (2007), Kevin Lima

Era uma vez… o último filme da Disney. E porque é que eu, uma snob de todo o tamanho, fui ver o último filme da Disney? Para lavar o cérebro, mes amis, e para ver se conseguia reacreditar na bondade inata do mundo etc e tal.

Kevin Lima... o senhor responsável por isto. Que também nos tinha dado o Tarzan (curiosamente, também fui ver esse ao cinema. Não me lembro de nada). Com Julie Andrews a fazer a narração, Amy Adams, Susan Sarandon (a má, evidentemente) e o bonzão da Anatomia de Grey, qual é o nome (será que interessa?), Patrick Dempsey.

(reparem como consegui escrever dois parágrafos inteiros e vocês ainda não sabem qual é a minha opinião. Muahh ah ah ah)

Todos sabem que já ninguém acredita nas histórias da Disney. Incluindo a Disney. Por isso um filme que parte disso mesmo – as histórias de princesas são ridículas e não acontecem na vida real – só pela ideia, já merece o aplauso. Acrescente-se que o filme começa de uma maneira tréé´, tréé ironique: em animação à lá Branca de Neve (sim, a boa animação que existia antes de existirem computadores e Pixar… sou do tempo em que…), com a Princesinha a sonhar com o Príncipe que aparece, armado em bom como só os príncipes (ou assim gostaríamos que fosse) conseguem ser, aparece a má – que é a mãe do príncipe (será que me escapou a inversão do complexo de Édipo? Não), e um ajudante labrego, um espelho, maçãs, e um poço sem fundo para onde a Rainha atira a Princesinha para um mundo horrendo – Nova Iorque. A real.

Por razões óbvias abstenho-me de contar mais. (i.e., qualquer anormal sabe como a história vai acabar – como acabam os contos de fadas, duh). Achei particularmente interessantes duas coisas: o uso de animação/imagem real, de uma perfeição incrível, e as constantes auto-citações da Disney – desde a óbvia Branca de Neve até Pequena Sereia, Cinderela, etc. Muito pós-moderno, sim senhora. Também genial aquele esquilo falante, que deixa de ser falante porque no mundo real os esquilos não falam. Portanto, mais uma razão para não pensar em ‘Alvim e os Esquilos’, porque NÃO ACONTECEU. (estou a ser má e a dispersar. Desculpem)

Amy Adams claramente nasceu para fazer de princesinha ingénua e virgenzinha (será que também ela vai pintar o cabelo de louro e pôr umas amigas novas? Medo). Patrick Dempsey parece estar sempre a fazer a mesma personagem, com uma variaçãozinha ou outra (sotaque brasileiro: Príncipe Encantado é assim mesmo, né, gatinho por fora e oco por dentro). James Marsdem faz tão bem o seu papel que só dá vontade de lhe espetar uma sova com tanto patriarcalismo junto, Susan Sarandon, bolas, está acima das minhas palavras, o esquilo Pip (cuja não-voz é feita pelo próprio realizador) – quero casar com ele.

Grandes momentos musicais, todos atacados por pássaros e pombos e coisas assim – um dos melhores momentos é quando a casa de Robert é arrumada por bichos muito, muito nojentos e citadinos, destruindo o mito que os animais são todos fofinhos. O momento no parque é muito, muito giro, e… o final muito, muito previsível.

Nem sei que dizer mais. Vê-se bem, uma boa aposta para distrair, lavar o cérebro, whatever. Se voltei a acreditar na bondade do mundo? Náááá….