segunda-feira, outubro 22, 2007

Rememering Kieslowski

Superbad, (2007), Greg Mottola


Se há coisa que tenha afastado mais gente de ver este filme – num país que delira com todos os seis (????) American Pies, desconfio que tenha sido a tradução brilhantemente ao lado do título – ‘Superbaldas’. Que é isto, meus deuses? Eles vêem os filmes antes de atirarem um título para as coitadas das bobinas (tadinhas)?

Eu própria, que desconfio estar-me a tornar numa snob de nariz empinado de primeira em relação a tudo o que tresande a comercialóide e/ou tenha o DiCaprio[1] a fazer de mauzão, tinha bastantes reticências em gastar o meu precioso capital financeiro a ver algo com um título tão brejeiro. Mas após alguns comentários entusiásticos de algumas pessoas, e também porque havia uma promoção a ser gasta e nada mais despertava o interesse, lá entrei.

A história é banal, muito americana: dois melhores amigos, quase a terminar o liceu e seguir para universidades diferentes, decidem arranjar álcool para uma festa onde estariam as duas raparigas da sua eleição, metendo-se nos mais incríveis sarilhos para conseguir levar a cabo tão arriscada missão. (os adjectivos ridículos são propositados) Como filme de lavar o cérebro, ou comédia juvenil, ou seja lá o que lhe queiram chamar, resulta muito bem. Os diálogos estão brilhantes, deliciosamente asneirentos e porcos – a personagem interpretada por … é sem dúvida uma das mais bem conseguidas, se bem que o nosso palhaço de eleição seja, por razões que me parecem óbvias demais para ser referidas, o famoso McLovin. (no intervalo ouvi uns comentários negativos de algumas raparigas das filas de trás, achando o filme com demasiadas referências ‘sujas’ ao acto sexual nas suas diversas variantes e extremamente misógino – é claro que elas não empregaram estas expressões de alto cariz universitário. Para mim, que vejo machismo em simples piropos, acho que elas não atingiram lá muito bem a fase conceptual do filme).

A banda sonora, que tem algo de viagem no tempo, dá uma cor de contraste interessante ao filme. Grandes momentos? Todas as cenas com os polícias chanfrados, os desvarios mentais de …, os créditos finais ornamentados com imagens de ‘portentosos falos’… Menos bom: algumas piadas fáceis, e um final que, visto um pouco à distância, passa uma sensação de angústia sobre o significado da amizade e do amor, e de qual estamos dispostos a abdicar mais facilmente.
[1] ex-paixão platónica assolapada da autora deste texto, que viu todos os trabalhos do menino de ouro de Hollywood e sex-symbol mesmo rodeado de cubos de gelo por todo o lado. Terá sido esse pequeno deslize hormonal que conduziu a autora ao interesse pelo cinema como arte, fazendo-a ver making ofs sobre making ofs e obrigando-a a abdicar da ideia de uma profissão segura e digna.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Os 10 da minha vida

(iniciativa do blog de Lauro António, http://10daminhavida.blogspot.com/)


Ora isto de top 10 é bastante complicado - ainda mais para alguém que desconhece por completo a noção de 'escolha'. Toda e qualquer lista de preferências que eu apresente é apenas.. hum... relativa ao meu estado de espírito neste momento em particular. Dito isto, aqui vamos:

1. Azul, Kieslowski

2. A.I. Artificial Intelligence, Spielberg


3. Big Fish, Tim Burton



4. O Pianista, Polanski


5. Jules et Jim, François Truffaut



6. Heaven, Tom Tykwer


7. O Homem Elefante, Lynch


8. Sunset Boulevard, Billy Wilder


9. Marie Antoinette, Sofia Coppola


10. Happiness, Todd Solondz





quinta-feira, outubro 04, 2007

Stardust (2007), Matthew Vaughn


Na lenta saída daquilo que aprendi recentemente designar-se por silly season (acrescente-se o desprezo que a Lusomundo vota às suas salas em Coimbra – cadê o Tarantino, cadê?), finalmente arranjei um filme para ir ver ao cinema. Stardust, de Matthew Vaughn (um realizador fresquinho) pareceu-me, entre todos aqueles cartazes que estão no Dolce a apanhar pó, alguns desde o início de Julho, um mal menor, quiçá até um bom início de temporada.

Ora bem, mais uma adaptação pós-Harry Potter, buga aproveitar a onda, já que os putos estão numa de aproveitar a onda, cenas de magia, confronto entre mundos, etc, etc. Vá, digam lá se estou enganada. Isto não significa que os filmes desta ‘moda’ sejam todos horrendos e desprezíveis, óbvio. Daqui a uns anos virá algum sociólogo estudar esta vaga de género, de certeza. (até aposto que apontará ao facto de, numa época em que dependemos de máquinas para tudo – bem, quase tudo – a magia surge ao ser humano como uma recentralização do poder no indivíduo, voltando a uma era pré-industrial mas com todos os confortos da modernidade, blá blá blá).

Ora, dizem-me os meus amigos da Wikipedia que o filme é uma adaptação do livro de 1998 com o mesmo título, da autoria de Neil Gaiman, que se deu com pessoas do calibre de Alan Moore e Dave Mckean e escreveu sobre aquele belíssimo livro que é o Hitchickers Guide to the Galaxy. Nunca li o Stardust, não me parece que tenha tempo nos próximos tempos para me lançar a tal coisa (a pilha de livros sobre cinema, jazz, neurologia, filosofia e música contemporânea já me proporciona uma sombra agradável por alguns meses. Por isso, sobre a qualidade do filme enquanto adaptação, nada posso dizer. Segundo um dos meus professores, como se tais questões fossem relevantes (ele nunca deve ter visto tanto filme a assassinar Shakespeare como eu vi numa recente fase da minha vida).

Primeiro: que belíssimo leque de estrelas num só filme!!! Ian McKellen a narrar, Michelle Pfeiffer, Robert DeNiro, Ricky Gervais, Peter O’Toole, Claire Danes… E um quase desconhecido, Charlie Cox (vi-o no Casanova e Mercador de Veneza – bem me parecia que a cara não era totalmente estranha) no papel principal. E bastante bem, diga-se. Aliás, o forte do filme são mesmo as personagens: Tristan, a bruxa Lamia, o Capitão Shakespeare (de longe a minha favorita – quando for grande também quero ser caçadora de relâmpagos; vejam em http://www.saricesartisticas.blogspot.com/).... e está bem filmado e tudo. Belíssimos planos, cores très jolies… A música não é nada de especial (que eu me lembre – também se há coisa que percebo menos do que música só cinema) – mas o que fica na cabeça de toda a gente quando sai do filme, cheio de efeitos especiais e momentos de genialidade, é ‘mas que raio é que falta para isto ser um grande filme? Porque falta alguma coisa!’

Eu adoraria saber que raio falta (isso poupar-me-ia flops pessoais futuros), mas só posso atirar barro à parede a ver se pega. Talvez porque a história é demasiado previsível (não sei se sou eu que sou especial – duvido – mas sabia sempre o que é que o herói ia usar para se livrar dos sarilhos), ou porque nunca acreditamos que a Estrela vai ficar sem coração, ou talvez, e isto é complicado, falta o amori. Isto é, se calhar o rapaz Vaughn não tenha feito o amor com a câmara (não num sentido literal, obviamente, que nojo). É tudo muito ‘vejam’, e para resultar devia ser ‘sofram!sintam!’; não consigo explicar melhor que isto, sorry.

Entre os grandes momentos de genialidade incluo: o pequeno hobby do Capitão Shakespeare, aquele gesto másculo e obsceno dos marinheiros, o ‘coro’ dos fantasmas dos irmãos, Ricky Gervais a fazer de Ricky Gervais (e como disse o Nando, é como o Woody Allen – resulta), a chacina dos irmãos, Claire Danes numa das mais intensas declarações de amor do ano dirigida a um rato (podiam criar uma nova categoria na Academia para contemplar estas coisas), o voodoo final, e a piadinha maldosa final do piscar de olhos entre o Capitão e o noivo de Victoria…

Momentos que poderiam ter sido feitos por mim ou por um dos meus colegas (no mau sentido) – que música de créditos finais é aquela, hã???