quinta-feira, outubro 04, 2007

Stardust (2007), Matthew Vaughn


Na lenta saída daquilo que aprendi recentemente designar-se por silly season (acrescente-se o desprezo que a Lusomundo vota às suas salas em Coimbra – cadê o Tarantino, cadê?), finalmente arranjei um filme para ir ver ao cinema. Stardust, de Matthew Vaughn (um realizador fresquinho) pareceu-me, entre todos aqueles cartazes que estão no Dolce a apanhar pó, alguns desde o início de Julho, um mal menor, quiçá até um bom início de temporada.

Ora bem, mais uma adaptação pós-Harry Potter, buga aproveitar a onda, já que os putos estão numa de aproveitar a onda, cenas de magia, confronto entre mundos, etc, etc. Vá, digam lá se estou enganada. Isto não significa que os filmes desta ‘moda’ sejam todos horrendos e desprezíveis, óbvio. Daqui a uns anos virá algum sociólogo estudar esta vaga de género, de certeza. (até aposto que apontará ao facto de, numa época em que dependemos de máquinas para tudo – bem, quase tudo – a magia surge ao ser humano como uma recentralização do poder no indivíduo, voltando a uma era pré-industrial mas com todos os confortos da modernidade, blá blá blá).

Ora, dizem-me os meus amigos da Wikipedia que o filme é uma adaptação do livro de 1998 com o mesmo título, da autoria de Neil Gaiman, que se deu com pessoas do calibre de Alan Moore e Dave Mckean e escreveu sobre aquele belíssimo livro que é o Hitchickers Guide to the Galaxy. Nunca li o Stardust, não me parece que tenha tempo nos próximos tempos para me lançar a tal coisa (a pilha de livros sobre cinema, jazz, neurologia, filosofia e música contemporânea já me proporciona uma sombra agradável por alguns meses. Por isso, sobre a qualidade do filme enquanto adaptação, nada posso dizer. Segundo um dos meus professores, como se tais questões fossem relevantes (ele nunca deve ter visto tanto filme a assassinar Shakespeare como eu vi numa recente fase da minha vida).

Primeiro: que belíssimo leque de estrelas num só filme!!! Ian McKellen a narrar, Michelle Pfeiffer, Robert DeNiro, Ricky Gervais, Peter O’Toole, Claire Danes… E um quase desconhecido, Charlie Cox (vi-o no Casanova e Mercador de Veneza – bem me parecia que a cara não era totalmente estranha) no papel principal. E bastante bem, diga-se. Aliás, o forte do filme são mesmo as personagens: Tristan, a bruxa Lamia, o Capitão Shakespeare (de longe a minha favorita – quando for grande também quero ser caçadora de relâmpagos; vejam em http://www.saricesartisticas.blogspot.com/).... e está bem filmado e tudo. Belíssimos planos, cores très jolies… A música não é nada de especial (que eu me lembre – também se há coisa que percebo menos do que música só cinema) – mas o que fica na cabeça de toda a gente quando sai do filme, cheio de efeitos especiais e momentos de genialidade, é ‘mas que raio é que falta para isto ser um grande filme? Porque falta alguma coisa!’

Eu adoraria saber que raio falta (isso poupar-me-ia flops pessoais futuros), mas só posso atirar barro à parede a ver se pega. Talvez porque a história é demasiado previsível (não sei se sou eu que sou especial – duvido – mas sabia sempre o que é que o herói ia usar para se livrar dos sarilhos), ou porque nunca acreditamos que a Estrela vai ficar sem coração, ou talvez, e isto é complicado, falta o amori. Isto é, se calhar o rapaz Vaughn não tenha feito o amor com a câmara (não num sentido literal, obviamente, que nojo). É tudo muito ‘vejam’, e para resultar devia ser ‘sofram!sintam!’; não consigo explicar melhor que isto, sorry.

Entre os grandes momentos de genialidade incluo: o pequeno hobby do Capitão Shakespeare, aquele gesto másculo e obsceno dos marinheiros, o ‘coro’ dos fantasmas dos irmãos, Ricky Gervais a fazer de Ricky Gervais (e como disse o Nando, é como o Woody Allen – resulta), a chacina dos irmãos, Claire Danes numa das mais intensas declarações de amor do ano dirigida a um rato (podiam criar uma nova categoria na Academia para contemplar estas coisas), o voodoo final, e a piadinha maldosa final do piscar de olhos entre o Capitão e o noivo de Victoria…

Momentos que poderiam ter sido feitos por mim ou por um dos meus colegas (no mau sentido) – que música de créditos finais é aquela, hã???

1 comentário:

Fernando Oliveira disse...

"RAAAAHHHH!!!" (levanta o punho fechado em gesto de força)