terça-feira, novembro 13, 2007

Rescue Dawn (2006), Werner Herzog


‘Espírito Indomável’, em português; como me explicou o Nando, uma tradução literal – rescue, espírito, dawn, indomável.

(vou tentar não começar a crítica com Ora)

Quem olha para a sinopse do filme (gentilmente oferecida pelo IMDB) e/ou para o trailer, está longe de imaginar que o realizador, alemão, Werner Herzog, é um ilustre membro do movimento ‘Neue Kino’, uma espécie de Nouvelle Vague para os boches. Outros ilustres membros do movimento foram R. M. Fassbinder (está a decorrer um ciclo sobre ele na Cinemateca Lisboeta – coitados daqueles que vivem na província, e não sabiam quem era o senhor quando houve um ciclo cá… snif snif) e o Wim Wenders, mais conhecido por ter feito a versão intelectualóide da Cidade dos Anjos, uns bons anos antes e intitulada Himmel über Berlin, ou em inglês, Wings of Desire. Para concluir a minha demonstração gratuita de intelectualidade e cultura geral apuradíssima acrescento que houve na altura uma coisa chamada Oberhausen Manifesto, a razão do cinema alemão se ter levantado das cinzas nos anos 70. Eu até dizia o que consta desse manifesto, mas comprei acções da Wikipedia e preciso de as ver render.

Tudo isto para dizer que este pode parecer mais um filme americano sobre a guerra no Vietname (até parece que estou a ouvir: MAIS UM???), mas não é. Ohhh. Mas parece.

Numa de confissões, e porque espero que quando atingir a celebridade os meus assistentes façam desaparecer no buraco negro internético estas baboseiras que debito regularmente, o único filme do Herzog que vi antes deste foi uma coisa… talvez deva escrever Coisa… chamada Hertz aus Glaz – sim, eu gosto de exibir o meu quase esquecido alemão – ou seja, Corações de Gelo. Não foi coisa que eu apreciasse por aí além, diga-se de passagem. Demasiado intelectual até para mim. Não há intelectualidade que resista à fraca qualidade VHS junto com um vídeo dos anos 70 e uma televisão dos 80. Mais tarde soube que este filme foi considerado por autoridades mais competentes como um dos mais ao lado do senhor Herzog, e senti-me feliz. Vou ter de dar outra oportunidade ao senhor, noutro dia de nevoeiro. Isto tudo para dizer que ao ver este filme esforcei-me por tentar ver o europeu intelectualóide por detrás das explosões.

Existem vários momentos em que Herzog cai nas suas marcas de autor (isto no sentido positivo da coisa) – lembro-me de dois: quando Dieter está a ser levado para o campo de prisioneiros de Laos e ouvimos a voice over: Os vivos têm os seus sonâmbulos e os mortos também (ou qualquer coisa do género), e depois, no fim, quando Dieter chega são e salvo ao seu barco, diz as palavras místicas: Esvaziem o que está cheio, encham o que está vazio… cocem onde tiverem comichão. Uma auto-ironia ao estilo Confucius says tão presente na obra de Herzog (pelo menos dizem que sim, que ele gosta de grandes frases aparentemente desprovidas de sentido)? É possível.

Um grande hip, hip, hurra para a banda sonora, a cargo do compositor Klaus Badelt e para o grande Actor Christian Bale, o Klaus Kinski de serviço, magríssimo, de um entusiasmo exasperante nos momentos mais improváveis, um plane freak com gostos culinários bastante peculiares. Não sei é o que a Sociedade Protectora dos Animais pode dizer sobre esses mesmos gostos…

A vegetação luxuriante da selva, a humidade que se sente mesmo quando a época das monções ainda não começou, o desempenho de Steve Zahn seguem de perto Bale e a Música. No fundo, no fundo, as únicas coisas que não me deixam sentir arrebatada pelo filme (se calhar o problema é meu, arrebato-me com as coisas erradas, tipo donuts com chocolate e relâmpagos) foram as concessões que Herzog fez ao american way of making movies – o ritmo da imagem (isso para mim até é positivo, já que pode servir de isco a gerações mais reticentes ao cinema de autor). Depois… hum, sei lá, a história tem um arzinho americano, mas não me posso esquecer que é baseada em factos reais, e se na realidade acabou bem, não iam deixar morrer o Dingler no fim só para me fazer a vontade.

Venham mais (deve ser dos poucos realizadores-velhos-mestres vivos que eu não tenho pena do facto). Com galinhas, que falharam a chamada para este.
(Pronto, Nando, acho que já corrigi tudo. Os pontos de interrogação estavam lá para alguma coisa...)

4 comentários:

Fernando Oliveira disse...

Por Jupiter! Tantos erros no mesmo post...

LadyS disse...

Isto é o que dá ter três blogs, um último ano de Universidade para fazer, um jornal, um programa de rádio e ainda por cima uma curta-metragem que já devia estar filmada há mais de um mês se não fossem os meus produtores...

LadyS disse...

E não ter net em casa para confirmar as coisas!!!

Kelita disse...

compraste acções da wikipedia?! é a loucura! também kero! LOL