quinta-feira, janeiro 15, 2009

Changeling (2008), Clint Eastwood


E a época de caça aos Óscares está oficialmente aberta! Saquem das espingardas para acertar no vosso realizador desfavorito e na banda sonora mais irritante de sempre!

Não, não é este. Tive esperança que fosse este o filme irritante deste ano, mas não. Bolas. E eu que até tenho uma implicação com Mr. Eastwood desde que ele realizou aquela coisa sobrevalorizada chamada Million Dollar Baby. Implicação não. Digamos arrufo. Acrescente-se que este é um senhor do cânone, e eu não gosto de pensar em mim como alguém que acende velas e faz oferendas ao cânone…

Anyway…

O filme da Angelina Jolie, como é conhecido entre os meios menos cinéfilos, fala de uma criança desaparecida. E de um departamento de polícia que encontra a criança… errada. E assim, Christine Collins aka maiores lábios pintados de vermelho que alguma vez tivemos oportunidade de ver no grande ecrã, empreende uma luta para ter o seu filho verdadeiro de volta, luta essa que passará por várias cenas bastante, hum, jolies (IRONY AND PUNWORD ALLERT!), passadas em manicómios, galinheiros, forcas e, alas, os tribunais. Já disse que é passado em Los Angeles dos anos 20, com o toquezinho de época? Já disse que foi Mr. Eastwood que compôs a música himself (e não, não é irritante)? E que, apesar de ter o John Malkovich a dar apoio a Jolie, não há romance, nem beijo, nem, meus caros quatro leitores, UMA ÚNICA CENA DE SEXO?

E não é que o filme é muito bom?

Primeiro, a menina Jolie está quase irreconhecível (lábios aparte), magrérrima (ela teve mesmo gémeos????), e toda a sua atitude está tão “dêem-me o Óscar que eu mereço”, que embora ainda tenha de ver as outras meninas e tal, vou ficar com pena se ela for de mãos a abanar para casa. Há um único momento onde todos nós podemos ter a certeza que é a Angelina Jolie e não um clone mortiço e com excelente jeito para a representação que está à nossa frente: no manicómio, quando ela se vira para o médico e diz esta magnífica frase que irá ficar para a História do Cinema com C grande: Fuck you and the horse you rode on. Genial.

Depois, duvido que tenha havido alguém na sala que tenha ficado aquela cena de uma brutalidade de bradar aos céus, nos galinheiros do rancho. E isto nem o filme ia a meio (nota: finalmente uma boa razão para os intervalos existirem: sabemos quando o filme vai a meio). A maneira como foi filmada – não vemos tudo, apenas excertos – torna a coisa muito, mas muito mais chocante se víssemos mesmo o maníaco em plena acção. O ter posto o miúdo de 15 anos como cúmplice praticante, então… deuses. Demasiado murro no estômago.

E assim Mr. Eastwood vai brincando com a nossa expectativa até ao fim, dando-nos uma chapada na cara de vez em quando, um murro no estômago aqui e ali, e se por um lado estamos todos desertinhos para um tension release – i.e., que o raio do miúdo apareça, isto até um certo ponto, e depois se o raio do miúdo morreu ou não no rancho -, e todos queremos um final feliz, no fundo no fundo, por outro lado – e começa aqui o SPOILER ALLERT – se ele tivesse mesmo aparecido o filme teria sido uma merda. A sério. Porque assim era como se tudo tivesse perdido subitamente o sentido. A luta, e tal. E fazer festinhas em nós depois de tanta pancada… ná.

END OF SPOILERS ALLERT.

Fotografia, ouch. Reconstrução de época, uau. Bom pormenor, o dos eléctricos. Roupa dos anos 20, check. Afirmações muito interessantes sobre o papel das mulheres na altura, a polícia, a ideia de justiça, etc etc. Música, fica no ouvido, cumpre a missão, está aprovado, Mr. Eastwood. E, no fim de tudo, como se não bastasse, based on a true story. O tipo jogou a artilharia toda, não haja dúvidas. Hum, isto vai ser renhido…

Mas sim, um filme bastante impressionante, e so far – não desdenhando do ‘Austrália’, que é poderoso mas não na mesma linha – o melhor filme que vi no cinema este ano. Ah e tal, ainda só fui ao cinema duas vezes e estamos em Janeiro. E eu digo, ………. E depois?

PP. Este quase de certeza que vai fazer parte da lista de nomeados. Também ponho o meu dinheiro virtual inexistente no filme do Boyle e do Sam Mendes. Tenho quase a certeza, embora ainda não tenha visto mais nenhum dos runners, que o meu preferido é capaz de ser outro que não este, mas de qualquer maneira… (ou então não…) Duh, claro que sim. Claro que, a não ser que o Revolutionary Road seja UAU, vou estar a torcer pelo senhor Fincher. Esse sim, o meu estilo de filme e realizador.

(e não é que a Lusomundo, depois de ter feito o horror de aumentar o preço dos bilhetes, deixou de passar publicidade idiota antes dos filmes e só passa trailers? Será possível? Irá durar????)

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