terça-feira, janeiro 27, 2009

The Curious Case of Benjamin Button (2008), David Fincher


Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac… Nunca subestimem um filme com relógios.

Pessoalmente, gosto quando realizadores ficam seguros e quietos dentro das quatro paredes do seu estilo, do seu toque artístico pessoal ou das suas manias técnicas, como lhes queiram chamar. Torna muito mais fácil falar deles em trabalhos para a faculdade, por exemplo. E geralmente são esses mesmos realizadores, com marcas chamadas autorais, que ficam para a história e tal.

De vez em quando, eu e outros somos surpreendidos por autênticos Prison Breaks, uns mais exaltados do que outros. Veja-se, por exemplo, Coppola com Youth Without Youth (e abstenho-me de qualificar o filme); ou PT Anderson com There Will Be Blood (não, não vou mesmo fazer comentários maldosos); os Coen com o filme que lhes deu a estatueta, No Country For Old Men (likewise); Woody Allen com Match Point (Sam-Wise); e para acabar uma lista que, ao ser levada à exaustão, não cabia no Blogger, David Lynch e A Straight Story (dizem). Gostemos ou não do resultado destas fugas, o certo, meus caros amigos, é que – e tenho pena de não haver uma expressão igualmente forte que não fosse tão marcada de género, por causa das minhas futuras colegas – é preciso tomates. E Fincher lançou-se sobre o abismo com um filme que não tem nada (?) a ver com a sua obra anterior. Será que resultou?

Para mim, na minha estúpida opinião, sim. Ok, tem ecos de The Big Fish, além que o trabalho de maquilhagem é tão assustadoramente bom que parece que estamos a todo o momento à espera que apareça o Gollum a dizer para o Brad Pitt my precioussssss. E embora pareça ter a ver com a história do último filme do Coppola, não tem nada a ver. Esta história é muito mais fatal, mais emotiva, mais forte.

Primeiro que tudo, todo o production design, a sensação que temos de ir ouvir uma história, a imitação de filmes antigos, a banda sonora fortemente evocativa, o passar ligeiro pela história americana. Depois, Brad Pitt a convencer-nos que é um ser singular, velho e de cadeira de rodas e tal. Quando Blanchett aparece no papel de bailarina promíscua (aliás, já estávamos extasiados pelo aparecimento dela como moribunda), ficamos sem palavras. As cenas de dança são de uma beleza que nunca suspeitaríamos serem gravadas na câmara de um tipo que nos deu a crueza do mundo moderno. Todo o filme é tão poético, tão fairy-tale, que nem nos chateamos com a ‘grande revelação’ à filha de Daisy (Blanchett). Nem com a evocação do furacão de Nova Orleães, que funciona um bocado como Titanic – já sabemos o que vai acontecer no fim mas, mesmo assim, ficamos impressionados quando acontece.

E se a coisa, para alguns, não funciona, para quem se deixa levar – se bem que com as expectativas a voar muito mais alto do que o filme em si – dá por si com a lagrimazinha ao canto do olho nos quinze minutos finais.

Grandes momentos: os créditos com botões, a história do relógio que anda para trás, a ‘cura’ na igreja, o funeral da cantora de ópera, a dança de Daisy no coreto, os flashbacks do homem que fora atingido por relâmpagos ‘sete vezes’ (e esperemos que este humor macabro de Fincher nunca desapareça), a breve história de amor entre Pitt e Tilda Swinton na Rússia, o momento do acidente de Daisy a evocar um bocado o Run Lola Run, os anos sessenta e finalmente a relação Daisy/Benjamin, o aparecimento de Benjamin como um miúdo cheio de acne e demente, o bebé Benjamin, o epílogo, etc etc etc.

Momentos menos bons: Hum, talvez nalgumas partes ainda seja um pouco ‘frio’ – o que torna o filme, numa analogia genial, super culta e esfomeada que me lembrei agora, um pouco como um semifrio coberto de chocolate quente – o que desliga as pessoas da coisa por segundos preciosos, e sem dúvida que, pelo trailer e hype à volta, esperávamos uma coisa mais poderosa, mas mesmo assim, quem não for ver este filme decerto arderá no inferno dos maus cinéfilos. Talvez. Um bom clássico futuro, sem dúvida nenhuma. Por mim, por toda a minha falta de consideração por valores estéticos e cinéfilos e etc, adorei adorei adorei.

NOTA: Lembram-se do elogio que fiz à Lusomundo por deixar de passar quantidades ridículas de publicidade desactualizada e pôr só trailers? Esqueçam.


POST-NOMEAÇÕES: Bem, 13. Uau. Será que posso não ser uma boa crítica, mas estou mesmo lá com a mentalidade da Academia? Hum...

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