segunda-feira, janeiro 08, 2007

Babel (2006), Alejandre González Iñárritu

O grande favorito aos Óscares. À frente do The Departed do Scorsese. Só isso já era razão para eu o tornar o meu favorito também, não acham?

Tenho a dizer que nem era para ver o filme agora. Estou completamente avassalada pela quantidade de trabalhos sérios e dignos que tenho de apresentar na próxima semana, ou seja, sair para ir ao cinema era extremamente improvável. Além do mais, a minha oftamologista recomendou-me que eu fizesse pausas do computador para descansar a vista (já vou nas 4.30/4.30 – pitosga mesmo).

Bem, deixem-me copiar o nome do realizador. Alejandro González Iñárritu. Não é um nome lá muito artístico, deixem-me dizer. Mas o meu também não é. Mais fácil falar do realizador de Amorres Perros e 21 Gramas. O primeiro, não consegui ainda ver, porque se há coisa que eu não suporte são cães a serem mortos à dentada. O segundo, vi sim senhor (estranhamente, considerações à parte, ver pessoas serem esventradas até à morte não me faz diferença nenhuma. Isto porque não acredito na bondade da Humanidade. Mas as lambidelas do Dumas são genuínas.) Sim senhor, prémio melhor realizador em Cannes 2006. Merecido. O rapaz sabe o que faz, é adepto daquela forma de filmar muito moderna, toda tremida, trata de assuntos interessantes, não faz nus gratuitos (aliás, apresenta o nu de uma forma tão natural que até nos esquecemos que estamos a ver alguém nu) e usa o Baenal. Façamos figas por ele. Ou pela Sofia Coppola, embora talvez este mereça mais.

De novo, várias histórias interligadas, bem ao estilo do Iñarritu (se ele vai ganhar o Óscar, é bom que me habitue a escrever o nome dele. Que diabo, consigo escrever Krzysztof Kieslowski de uma assentada, é uma questão de hábito). Uma com uns rapazinhos marroquinos, outra com um casal americano a passar férias em Marrocos (Brad Pitt com uma barba extremamente interpretativa e a minha cara Cate Blanchett que mal posso esperar para ver o The Golden Age), os filhos destes e a sua ama mexicana, numa visita forçada ao México acompanhados por aquele que espero que nunca se torne um sex-symbol, senão perde a piada toda (ok, um sex-symbol underground, é o máximo que permito), e por fim uma rapariga japonesa surda-muda que tem uma frustração imensa em não arranjar alguém que a leve para a cama. Tudo ligado no fim, como é óbvio.

A história que gostei mais? A da japonesa. A forma como o realizador mostrou as dificuldades dela em ter uma adolescência normal com as suas limitações (o momento na discoteca, a montagem sonora, então, … brutal), o desespero dela (sobretudo no último momento com o detective)… talvez a história mais perto da minha linguagem de vida, por assim dizer (note-se que o filme se chama Babel por lidar com isso mesmo, linguagens diferentes – em termos linguísticos e em termos de cultura). A situação mexicana, ultimamente tenho visto muito em filmes. Estou-me a lembrar do Traffic, que por acaso vi recentemente, e uma curta sobre os imigrantes ilegais que passam a fronteira à força. É uma situação ridícula e dá-me cada vez mais repugnância pensar o quão mesquinha e narrow-minded é a ‘home of the free, land of the brave’, que, caso não se lembrem, começou por ser o caixote de lixo da Europa, um verdadeiro melting pot. Era de esperar que fossem mais tolerantes, é o que quero dizer. E a questão de Marrocos, ligada ao tão popular tema do terrorismo… nem vale a pena falar. Todo o preconceito, aqueles turistas histéricos com medo de serem assassinados por marroquinos… quanto muito, obrigados a comprar um tapete, agora assassinados… andam a ver muitos filmes, vê-se logo. Ou a sacá-los da Net, têm ar disso. A estragar o meu futuro económico… Humpf!

Desempenhos: adorei o da rapariga chinesa da qual nem sei o nome, o Baenal estava muito bem, a tia dele talvez seja o desempenho que mais sobressai, os miúdos marroquinos, especialmente o mais novito – dêem-lhe mais papéis em filmes, por favor – Cate Blanchett, não deu bem para ver, basicamente passou o filme a esvair-se em sangue, Brad Pitt estás perdoado pelo Tróia (e não cortes essa barba), e acho que é tudo em relação aos desempenhos.

Grande maneira de filmar, só digo isto, muito moderna, muito a imitar o amador e contudo com planos brilhantes, tudo com um ar tão espontâneo e todavia tudo cuidadosamente pensado (de novo refiro a cena na discoteca), grande encenação do casamento mexicano (um ambiente que passou muito bem para o espectador… hum, talvez para as raparigas atrás de mim que não paravam de rir feitas idiotas – e acrescento que todos temos o direito aos nossos dias de idiotice – não tenham captado muito bem. Agora que penso nisso, talvez sejam as mesmas que ficaram atrás de mim a ver o Tróia e que não paravam de falar das pernas do Brad Pitt, que ironicamente nem eram dele mas sim dum duplo).

Foram três euros bem gastados, mais juntando o facto de que a Lusomundo não fez intervalo. Hip, hip, Hurrah! Sim, porque um intervalo dá sempre, aos cinéfilos e anti-pipocas nas salas como eu, uma sensação de coitus interruptus que não é nada saudável. Eu sei do que falo. Eu sou a doença em pessoa. ;) Por isso é que tenho um fetiche pelo Dr. House. (ai, a crítica estava a ir tão bem…)

Sim, espero que seja nomeado. O primeiro filme que vi este ano, parece-me que comecei bem. Venha o Scoop, o Apocalypto e o Contado Ninguém Acredita. Eu cá vos espero…

Nota: O Body Rice também, mas esse espero pelos Caminhos…

2 comentários:

Fernando Oliveira disse...

não é "Bernal"? e a míuda japonesa chama-se Rinku Kikuchi... Imdb, minha amiga, Imdb... Também gostei muito de toda a sequência japonesa, se bem que ache que a parte dos míudos marroquinos me comoveu mais. Grande desempenho o do puto... ahm... esqueci me do nome dele... acho que é Boubker qualquer coisa...

Fernando Oliveira disse...

ah!, não digas nada a nínguem, mas já vi o Scoop e o Contado Nínguem Acredita está à espera que eu tenha tempo livre de exames para o ver...