sexta-feira, março 28, 2008

Juno (2007), Jason Reitman


O indie (não confundir com o ancião Indy) nomeado do ano. Porque fica bem fingir que o cinema independente também pode ganhar homenzinhos dourados. Pois sim claro.

Há duas coisas grandiosas neste filme – a primeira, o guião de Diablo Cody; a segunda, a almighty Ellen Page, a actriz mais refrescante (e menos artificial) dos últimos tempos.

Juno é uma adolescente que, num momento de tédio, resolve experimentar o maravilhoso mundo do sexo com o melhor amigo, e, ups, fica grávida. Inicialmente decidida a enviar o pequeno contratempo para o Limbo (na altura em que o filme saiu ainda existia, acho eu), Juno tem uma revelação súbita na clínica de abortos (bastante creepy, por acaso, com uma adolescente horripilante no guichet de atendimento) e resolve ter o bebé. É aqui que os movimentos pró-vida fazem hip, hip, hurra – porque Juno é tão hip e não aborta – mas convinha lembrar a esses senhores que se a miúda tem feito o que é provável que tivesse feito, fosse ela uma miúda real (não conheço ninguém de 16 anos com tanta atitude e auto-confiança), não havia filme. Duh.

Ellen Page é, provavelmente, a única actriz que faz sentido para uma personagem como Juno. Quer dizer, conseguem imaginar mais alguém naquele papel? Eu não. E, graças aos deuses, a profundidade não se esgota na personagem principal. Michael Cera, que interpreta o melhor amigo de Juno/pai biológico da criança é tão totó que só dá vontade de lhe atirar o alguidar de pipocas (não, não me enganei, alguidar mesmo) à cara. Acorda para a vida miúdo! É assim tão difícil de perceber que ela também gosta de ti, seu idiota! Argh, projectos de homem ingénuos… (sim, porque o grande momento romântico deste senhor é quando o vemos cheirar as cuecas de Juno, sozinho na cama). Além do miúdo corredor (aqueles rapazes que se passeiam pelo filme como leitmotiv são bem engraçados), temos a madrasta (Allison Janney), o pai de Juno (JK Simmons), e o casal perfeito (ou nem tanto) Jason Bateman e Jennifer Garner, que tem o relógio biológico a gritar horas.

E sim, Jason Reitman deixa o filme fluir com os one-liners incisivos de Cody e com o carisma de Page, e por isso tem um bom filme, sem dramatismos, tearjackers, etc etc. Não é um teen flick. Graças aos deuses.

A banda sonora, com temas dos Kinks, Mott the Hoople, Belle & Sebastian e até Velvet Underground, é uma excelente antologia para ouvir, seja antes de ver o filme, depois ou em vez de (ná, vão ver o filme, seus idiotas). As faixas de Kimya Dawson servem que nem uma luva a este filme, com a sua voz infantil e tibutear adolescente (se bem que Juno não parece ter papas na língua).

Melhores momentos? Começam logo na deliciosa animação dos créditos iniciais, passando para o momento em que Juno anuncia aos pais o seu desvaire, as cenas em casa dos pais adoptivos, e – por momentos receei que a coisa descaísse de nível nos momentos com Bateman e Page, sei lá, vi ali um cheirinho de romance inter gerações mas felizmente foi só um cheirinho, mesmo – o grand finale entre Juno e o seu amigo. Tcharam.

Um feel good movie sem vergonha de o ser, com o bónus de bons actores, excelente argumento e, bem, ser indie, e o indie, como toda a gente sabe, is the new black.

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