segunda-feira, março 03, 2008

Sweeney Todd (2007), Tim Burton

Genial.

(end of critic)









Pretende-se alguma seriedade na página bloguística que é a nossa, mas como querem uma opinião semi-isenta sobre um filme com o meu realizador (vivo) e actor (vivíssimo) preferidos? Que querem que eu diga mais? Acrescente-se: o meu realizador preferido num slasher musical – que mais podia eu querer? Melhor melhor só a ideia de ver a Sofia Coppola a fazer um filme sobre a Dama Negra dos Sonetos.

Bem, comecemos por falar do Tim Burton. O sr. Burton é um génio. Ponto final. Ele é dos poucos realizadores actuais que tem um universo próprio, muito marcado, e assinaturas constantes que não se tornam repetitivas ou enjoativas (pelo menos para os fanáticos como eu). Continuando, ele é um génio. Ponto final. Se havia pessoa capaz de transformar uma história sobre um barbeiro sanguinário num filme grandioso era ele. Musical? No problem.

Importa aqui aniquilar todos os que dizem que este é um Burton menor. É incrível como dizem isto sempre que o senhor Burton lança um filme. Na minha parca inteligência, isso chama-se evolução. E o senhor Burton tem evoluído muito desde o Eduardo Mãos de Tesoura. Experimentado, jogado com o seu universo pessoal, expandindo-o, fazendo coisas que não estamos à espera. Por exemplo, musicais.

O senhor Burton, segundo consta, não gosta lá muito de musicais. Mas o ter visto este meteu-lhe bichinhos na cabeça. E nós até percebemos porquê. Não consigo imaginar outro realizador a fazer este filme. Nem consigo imaginar outro protagonista além de Depp. E demos graças que o menino sabe mesmo, mesmo cantar. Um milímetro abaixo do seu estilo de representação (de construção externa, li não sei onde, de fora para dentro), mas mesmo assim, ficámos com vontade de ouvir mais. Neste irmão mau de Eduardo manápulas cortantes, as facas/navalhas são externas, o esgar é tudo menos inocente, o olhar é opaco, a pele cinzenta. Yeh.

Para mim, o tema do filme é a vingança. Dizer que é sobre a obsessão não me parece correcto. Porque a obsessão é com a vingança sobre o juiz (e alastra sobre toda a população de Londres), em Todd, mas Pirelli também se quer vingar de Todd, e Mrs. Lovett vinga-se de Laura, e o miúdo vinga-se de Todd. Etc etc etc.

Não é um musical vulgar. Primeiro, a história. Depois, a fotografia – associamos sempre o musical a uma maior paleta de cores, e aqui isso só nos é dado na sequência de sonho de Mrs. Lovett, By the Sea (algo que sai deliciosamente de tudo o que tínhamos visto até aí) – os devaneios de Todd são sempre cinzentões com splashes de vermelho ocasionais. E o trabalho de câmara, meus caros, genial. (sim, estou a repetir propositadamente o adjectivo). No fundo, é filmado como um filme ‘normal’, em que as personagens por acaso não param de cantar. O plano inicial burtonesco? Temos direito a dois: aos créditos iniciais, em animação, e a um accellerando nas ruas de Londres, do cais até Fleet Street, quando Todd volta à sua antiga casa.

Sobre a fotografia – a cargo do senhor – fantástico. É como um filme a preto e branco (meio esverdeado, às vezes, qual foto antiga colorida à mão – com sangue vermelhaço que parece saído de um slasher do nessa altura novato Peter Jackson, que embora minimizando o efeito gore da coisa (porque não é isso que interessa), resulta très jolie, bonito, estilizado, simbólico (tomem esta, Cahiers).

A ausência aqui é Danny Elfman. Mas a partir do momento em que ouvimos a belíssima banda sonora de Stephen Sodheim perdoamos tudo. Porque não é Elfman, é certo, mas resulta muito bem. Estão lá órgãos, é o que interessa. Influências da música londrina da época, diz o senhor Stephen. Sim, parece-nos muito bem. No meu caso, a música só começou a entranhar-se depois do filme – no fim de saber ao que é que corresponde o quê. Mas eu sou uma insensível, por isso não conto. Só com desenhos e imagens é que consigo perceber o que é suposto sentir aonde. ;)

Helena Bohnam Carter. Sim, ela dormiu com o realizador para conseguir o papel. Mas nós importamo-nos? Ná. Além de já ter dado provas anteriores dos seus dotes musicais (em A Noiva Cadáver, por exemplo), quem mais podia fazer da andrajosa Mrs. Lovett? E quem mais deixaria Burton andar aos beijos (um, pequeníssimo) com o melhor amigo? O tamanho dos seus seios oscila de plano para plano? Sim, estão enormes (não acredito que estou a escrever sobre isto), mas quando sabemos que no contraplano está Depp, quem é que presta atenção a eles?

Da primeira vez que vi, tenho de confessar que achei o final abrupto. Porque no fundo eu (e o resto do público, com um ‘oh’ colectivo) era capaz de ver mais umas 5, 6 horas daquilo. Da segunda vez, o final pareceu-me mais natural, o único possível (continuar seria possivelmente estragar), e como já sabia tudo o que ia acontecer, pude deliciar-se com a mestria técnica de Burton, que pode não ser gritante, mas não deixa de ser genial, claro, porque o senhor é um génio (estarei a repetir-me?).

Grandes momentos: o dueto ‘My Friends’, onde Todd se declara às suas navalhas enquanto Mrs. Lovett se declara a ele, o concurso com Pirelli (go go Sacha Baron Cohen), a epifania de Todd, o trio ‘Johanna’ com a aparentemente insignificante vagabunda a cantar city on fire!, e, não podemos esquecer o momento mais out da coisa, o By The Sea, com um acabrunhado Todd a aparentemente ceder aos avanços amorosos de Mrs. Lovett.

Momentos maus? Onde? Não me apercebi…





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