quinta-feira, janeiro 03, 2008

Beowulf (2007), Robert Zemeckis


Quando eu era uma criança inocente, o que nem foi assim há tantos anos como isso, tinha uma VHS em casa que estava sempre a meter no vídeo. Chamava-se Quem Tramou Roger Rabbit? e é, pelo menos, o responsável por eu ter uma fixação nada saudável com vestidos vermelhos brilhantes.


Soube anos depois que o responsável por esse momento de film noir meets cartoons chamar-se Robert Zemeckis e ser pessoa conhecida por fazer filmes bastante bons (O Náufrago - a fazer fé em opiniões alheias - é disso um bom exemplo). Ora, em 2004, se não estou em erro, o dito senhor Zemeckis resolveu empregar uma técnica nova chamada motion capture (entre familiares, carinhosamente tratada por mo-cap) e fez Polar Express. Não, não vi. Só o trailer bastou para não ter vontade nenhuma de gastar o meu rico dinheiro naquilo. Parecia um filme de zombies.


A minha grande dúvida existencial, aumentada uns biliões de vezes depois de ver Beowulf, prende-se com as vantagens de tal sistema. Percebo que a animação permita coisas maravilhosas (entre as quais, não precisar de levantar cedo para dirigir actores), mas ter os actores em carne e osso, pôr-lhes sensores no corpo e depois passá-los a uma animação ‘de sólidos’ tão primitiva que faz com que o Noddy pareça uma coisa sofisticadíssima… Por quê? Por quê? Depois de Finding Nemo, Shrek, e Ratatuille… por que raio as personagens de Beowulf parecem estranhamente semelhantes – aliás, dizendo verdade, ainda menos detalhadas – que os meus puppets dos Sims2? Coincidência? Não vi a referência à EA Games em lado nenhum…


(Soube há pouco tempo que Tim Burton – o Excelso Autor que Não Cumpre Prazos de Pós-Produção Porque É Perfeccionista – vai expandir a sua curta Frankenweenie a longa e pensa usar mo-cap se não nesse, num próximo projecto. Medo, muito medo… ele que nunca me conseguiu desiludir… argh)


Como se não bastasse, tive o prazer de pagar 1.50 por uns óculos 3D, para viver a experiência. A minha opinião sobre o 3D? Bem, as calças boca de sino voltaram, os Rolling Stones dão concertos… porque não o 3D? Apesar de preferir o ressurgimento dos drive-ins e cineclubes a sério, não tenho nada contra os óculos estúpidos. Mas atenção – o filme tem de justificar o uso da técnica. Ora, se faz sentido o Jaws 3D, Infected Spiders From Outer Space 3D e até The Wonderful World of Flying Things in Your Directions 3D, há situações em que não se justifica – de maneira nenhuma. Acrescente-se que aquilo que vi no Beowulf, para mim, não é 3D nenhum – a não ser que consideremos aqueles desenhos para ver com os óculos bicolores na traseira das caixas de Chocapic the real thing. Porque não é uma espada apontada à 3ª fila – coitada de mim que estava bem atrás, assim como todo o espectador europeu que se preze – que me faz dizer Uau na era da Playstation 3 e dos vibradores a luz solar. Nope. Não impressiona.


At last and awfully least, a história em si. Adaptação do conto inglês do século VII, ou VIII, ou IX. Antigo. Nunca li, sorry. Mas estive a cuscar aqui e ali, e não se trata de uma adaptação ipsis verbis. De facto, há uma boa dose daquilo que entre nós, estudantes de cinema pseudo-intelectuais, chamamos de ‘liberdade poética a armar à telenovela da TVI protagonizada por Steven Seagal’. Não querendo estragar o filme aos felizes que vão esperar pelo próximo Natal para o ver no conforto do lar, digamos que aquela história de fazer monstros à Jolie é treta hollywoodesca. Também não há qualquer referência a monstras nuas terrivelmente humanas, bonitas, é certo, e trabalho de câmara suficiente para ilustrar só com essas cenas qualquer compêndio de tomadas de vista de câmara. Só faltou mesmo o in uterus, e até se podia estudar anatomia feminina com aquilo. Reforço ‘feminina’ porque, apesar do filme ser para maiores de 16, e animação, nem uma insinuação de prepúcio ou falta dele nos é dada a ver. Não, não sou uma tarada por piwinhas em filmes, mas quando vemos o senhor Bewulf nu em grande parte do filme, sempre com uma taça/braço/trave/nevoeiro à frente, começamos a achar que a pudendice do senhor Zemeckis em relação ao corpo masculino em todo o seu esplendor (sim, porque estamos a falar do Fantasma da Ópera/Leónidas/Gerald Butler – para quando um musical com ele em tronco nu, ahein?) revela quiçá ou esqueletos no armário ou medo de sair de lá.(esta foi tão profunda que nem eu a atingi em toda a sua imensidão).


Música? Nem me lembro.


Bons momentos? O trailer dos peixes pré-históricos da National Geographic que passou antes do filme. Sim, leram bem. Eu sei que a crítica internacional, sobretudo a americana, vibrou com a coisa. Temos pena.


Depois de 300, depois de Sin City, meu caro Zemeckis… eu – e falo por mais gente do que seria suposto – não como de sorriso alargado qualquer porcaria embrulhada em marketing de vanguarda tecnológica que me ponham à frente. Devias fazer o mesmo.

2 comentários:

Fernando Oliveira disse...

"vibradores a luz solar"?!

Kelita disse...

yeeeee!
eu até gostei do filme. prontos não é assim a loucura total, mas vê-se!
mas gostei das tuas observações!