terça-feira, janeiro 15, 2008

Shoot 'em Up (2007), Michael Davies

Imaginem o Bugs Bunny e o Caçador, naqueles desenhos animados que preenchiam as nossas manhãs de fim-de-semana, quando éramos novos e inocentes. Agora imaginem que o Bugs Bunny tinha um jeitão com as armas. Cruzem-no com um Steven Seagal, Exterminador Implacável, James Bond, Jet Li, etc etc. Tudo isto dentro do charme do Clive Owen, o único homem que consegue salvar o Mundo de chinelos de enfiar no dedo e o único para o qual eu cozinharia e passaria roupa de sorriso nos lábios. Mesmo assim, mes amis, ainda estão a léguas do que este filme é. Milhas e milhas away…

E não, este não é um filme de gajos, embora tenha a Mónica Bellucci a fazer de prostituta leiteira (literalmente) e muitos, muitos tiros. É coisa que fique na história do cinema, que uma pessoa vá estudar daqui a alguns anos com respeito e veneração? Ná… Mas que interessa isso, num ano tão miserável como este, em que todos os filmes que talvez merecessem o meu respeito ou não vieram para Coimbra ou só cá ficaram uma semana? (eu sei, a net, mas algo em mim odeia filmes sacados).

Todo o filme que consegue manter o mesmo ritmo implacável do início ao fim, fazendo-me rebolar a rir com as incríveis sequências de acção, desde o primeiro plano de um Clive Owen a mastigar calmamente uma cenoura, sentado num banco, à espera do autocarro, até ao final de um Clive Owen todo esmurrado – deuses – também à espera do autocarro. Mr. Smith – o nome da personagem – apresenta-se como um homem implacável, com um passado que nunca nos é apresentado, e um futuro para o qual não somos convidados. Paródia aos filmes de acção dos anos 80? Parece-me demasiado redutor chamar-lhe isso.

E como não só de criticas deita-abaixo os senhores instituídos, deixem-me aqui louvar Jorge Sauron Mourinha pelas belíssimas palavras sobre o filme:

É um filme xunga que meteu o turbo à potência atómica, um desenho-animado absurdo de imagem real, um objecto deliberada e orgulhosamente idiota que tem como único fim pôr Clive Owen a matar o máximo de oponentes do modo mais implausível possível no mínimo espaço de tempo sem perder a pinta.(…) E, melhor ainda, toda a gente que trabalhou nele sabe-o e passa o tempo a piscar o olho ao espectador (a começar por Clive Owen e um Paul Giamatti impossivelmente cabotino). Como não gostar de um filme tão desavergonhado - e tão desavergonhadamente idiota - assim?

É por estas e por outras que eu acredito que os críticos de cinema do Público, no fundo no fundo, nem são más pessoas (ou críticos). Sem dúvida, a grande personagem do filme é Clive Owen (como me sabe bem teclar o nome dele… ahahahahha), com o seu ar enfarruscado e suado, trincando cenouras, os seus one-liners poderosíssimos (desde o óbvio What’s up, Doc?, que nos faz pensar – uau, isto do cinema pós-moderno, citacional e de palimpsesto foi a melhor coisa que aconteceu depois do Steve Jobs voltar para a Apple!) até I’m a British nanny, and I’m dangerous, passando por Fuck you, ya fucking fuckers. Mas Paul Giamatti… como dizer isto… ‘cabotino’ é sem dúvida o melhor adjectivo. Não só tem um toque de telemóvel genial (A Cavalgada das Valquírias de Wagner), que o interrompe sempre a meio de alguma matança (“Yes, honey? I can’t talk right now, I’m in the middle of something”), até a sua perversidade cinéfila (“Does anyone know what a Jimmy Cagney love scene is? It's when Cagney lets the good guy live.”), até à incrível, e esta sim, merece figurar na História do Cinema, frase: “Tit for tat, Mr. Hero. Tit for tat.”
Monica Bellucci? Sempre linda, mais velhinha é certo, com os seus enormes seios a baloiçarem pelo ecrã.

E o realizador, quem é? Michael Davies, uma quick search no IMDB e fico a saber que o único filme que vi dele foi o 100 Girls. Lembram-se? A história daquele tipo que tem uma noite de sexo escaldante no elevador da residência universitária e não sabe com quem? Pois. Eu lembro-me bem do amigo dele, daquele que pendurava pesos nas… pendurezas… para ver se esticava algumas coisa. Uma comédia adolescente um bocado estranha.

Banda sonora… estou a ouvi-la enquanto escrevo isto. Muito rock, muita acção, tudo o que se pedia, de facto. Palmas para o senhor Paul Haslinger, ex-membro dos Tangerine Dream, agora a solo.

Melhores cenas? Ui, difícil é escolher… Digamos que a cena de sexo está entre as melhores que alguma vez vi (e não digo isto só porque lá está o Clive Owen), assim como quando Mr. Smith espanca a mãe de uma criança, todas os momentos cenourísticos, a cena em que julgamos que, finalmente, o mauzão da fita conseguiu matar o bebé, e o momento final frente à lareira. Pronto, de resto vejam. Adoro especialmente o facto de não perderem tempo a explicar o pretexto para a história – aquilo das armas, etc etc – porque o que interessa, sem dúvida, é ver o Clive Owen aos tiros. O resto … fuck it.



1 comentário:

Kelita disse...

Também dou estrelinhas a este filme!!Muito bem!
he, he...
e acho que ali pelo meio da tua crítica, notei um pequeno riso maléfico... estarei enganada? LOL