terça-feira, julho 08, 2008

Love in the Time of Cholera (2008), Mike Newell


A dificil tarefa de adaptar um livro muito, muito bom (segundo dizem) ao ecrã nem sempre corre bem. Aliás, é raro correr bem. Mas é o Mike Newell, e Ronald Harwood, o argumentista do Pianista…

Ambos precisam de uma carga de porrada. Voluntários?

Ainda pensei que fosse da minha alergia sazonal às histórias lamechas de amor – compreendam, estarmos a limpar o cérebro da nossa platonice de há 4 anos e ir ver um filme sobre um tipo que esperou uma data de décadas… - mas não. Não não e não. É muito mais que isso.

Primeiro que tudo, o ar produção da Globo que o filme tem todo. Começando pelos malfadados créditos com florzinhas, e zoomzinhos, e musiquinha de fazer bebés… ainda pensei: hum, será que estou no meio de um pesadelo? Mas não. O pior ainda estava para vir.

Ver o Bardem com ar de cachorrinho atrás lá da Fermina é, no mínimo, assustador. (ainda demais poucos dias depois de ver No Country For Old Men…) Acrescente-se o pior trabalho de maquilhagem que alguma vez vi num filme, e estou a incluir trabalhos amadores de colegas meus. E Shakira, por amor dos deuses???? Shakira como banda sonora???? Em que raio estavas a pensar, Newell??? (atenção, não estou a desdenhar da qualidade musical da cantora, que tem, na minha opinião, uma voz fantástica. Estou a desdenhar do ridículo e ‘golpe-comercialóide-frustrado’ que é pôr canções dela como única banda sonora…)

Atenção, há coisinhas boas. Tipo, o excelente livro que se consegue, apesar de tudo, perceber atrás de tanta falta de jeito/tacto. Parece que pensaram: bem, o livro nunca vai ser suficientemente bem adaptado para o cinema, por isso deixem-nos ganhar uns trocos enquanto fazemos o mínimo possível. Sinceramente. É que isto já parece um golpe das livrarias, tipo veja o filme. Compre o livro, ou então, numa vertente ainda mais assustadora, as Cliff Notes, agora em formato cinematográfico.

Bem, depois deste relembrar de todos os pensamentos que me atolaram durante o intervalo, vamos lá ver… Bardem é um excelente actor, e está aqui num registo fantástico (pena a péssima maquilhagem quando ele envelhece… onde é que tinham a cabeça, onde???) Giovanna Mezzogiorno (aka Fermina) tem um sei que de beleza estranha, foi bem escolhida para a personagem, embora até doa a diferença abismal quando tem de partilhar o ecrã com Bardem (não é que ela seja má de todo, ele é que é bom demais). Depois, Benjamin Bratt como aquele idiota do Dr. Juvenal (sim, ódio às personagens, ódio às personagens é que é bom) – adoro quando ele morre, principalmente da maneira que morre.

Outra coisa fantástica é o chamado ‘body count’ de Florentino (Bardem). (fantástico, excelente, etc etc… vê-se bem que desliguei o cérebro para as férias). Principalmente a primeira vez em que ele descobre as alegrias do sexo no navio… muito, muito bom. A cara de totó, a máquina sexual… fantástico. E a sua grande frase final, quando finalmente consegue Firmina – ‘eu mantive-me virgem para ti’ – geeeenial. Sim, essa genialidade parte do Marquéz e não dos imbecis que fizeram este filme, mas pelo menos deixaram estas coisas para nós podermos apreciar – podiam tê-las cortado impiedosamente. E, alguém tem de dizê-lo, grandes cenas de sexo. Se calhar foi pela atenção a elas que se esqueceram que o resto do filme também merecia um bocadinho mais de trabalho...

Sinto-me estúpida por estar a tentar lembrar-me de coisas que vi há muito, muito tempo atrás… Não me lembro de pormenores inteligentes nenhuns… Mas tenho de keep up até aos filmes recentes – é a minha OBRIGAÇÃO MORAL VIRTUAL. E isso tem muito peso. Ou não.

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