sexta-feira, agosto 08, 2008

The Dark Knight (2008), Christopher Nolan


Why so Serious?

Ao fim de meses e meses de espera, eis que podemos ver o “filme do ano”, a única coisa que por aí andava com um hype ainda maior que o IPhone – e isso é dizer mesmo, mesmo muito. Com o seu primeiro filme, Batman Begins – um reload da série Batman, que teve a sua primeira aparição nos anos 60 na televisão – Nolan tinham posto no caixote do lixo os devaneios assustadores de Schumacher, com aquelas coisas coisas chamadas Batman Forever e Batman & Robin – sim, todos nos lembramos deste último dos belíssimos mamilos de George Clooney, mais do que da história propriamente dita.

Com The Dark Knight, lamento dizer, não perfilho a opinião do crítico do Público Jorge Mourinha – que para o caixote do lixo vão os incontornáveis filmes de Tim Burton. Snif. Só me consola o facto que o próprio nunca gostou muito deles - qual é o mal de serem cartoonescos???

Primeiro que tudo, Christian Bale foi talhado para vestir a pele – e as cicatrizes – do Cavaleiro Negro. Não só tem o queixo ideal requerido para o papel (com uma voz grossa estranhíssima quando enverga a máscara), como o ar de menino mimado aka Bruce Wayne. Aaron Eckhart finalmente nos dá as origens do Harvey Two-Faces (sim, eu posso ser uma gaja, mas mitologia batmánica é comigo – não tanto como história inglesa, mas dou uns toques), com o seu ar de bom partido completamente estragado por um bocado de gasolina. Michael Caine é o mordomo inglês que todos gostaríamos de ter, Gary Oldman a jogar contra o que nos tem habituado (Sirius Black! Sirius Black!) no papel do dúbio polícia Jim Gordon, e, claro, a garota de serviço, ? , a fazer inveja a muita namorada de super-herói, pois nem todas têm o prazer de, efectivamente, não serem salvas pelo seu bem querido, ou de darem os pés a esse mesmo bem querido ignorando ele o facto.

Não me esqueci de ninguém, pois não? Continuando…

Sim, estamos numa América negra, não um negro Burton (sempre estilizado e onde o roxo fica sempre bem), mas numa negritude realista, onde não é bem banda desenhada que vemos quando olhamos para os prédios a explodir, mas mais o telejornal da noite. O filme começa, inteligentemente, à luz do dia. Nem só de noite explodem coisas.

Batman como o herói de que Gotham merece. Um anti-herói fora-da-lei que assume os assassinatos feitos pelo ‘herói’ Harvey para que ele possa ficar branco e limpo aos olhos dos cidadãos. Finalmente Bruce parecia poder pendurar as orelhas de morcego e dedicar-se a Rachel – surgira alguém capaz de fazer o trabalho por ele (genial os wannabe Batmans ) – mas não cedo se apercebe que afinal não só Rachel deixara de se a ‘única possibilidade de uma vida normal’ como ninguém conseguia ser negro o suficiente como ele, sem se deixar corromper pelos vagos desejos de vingança.

Música muito ousada para blockbuster – ouvi laivos de minimalismo repetitivista???? -, grande trabalho de fotografia, excelente desenho do BatLab (todos o adoramos, certo?), e queremos ver mais vezes o Batman de mota ou de Lamborghini, porque é bem giro.

Grandes momentos: Joker.

Piores momentos: que raio aconteceu ao Joker, afinal?

Será que consigo ignorar por mais tempo? Não.

Bolas, não, não acho que o filme seja o novo Laranja Mecânica. Sorry. Mas temos um novo Alex, isso sim. Heath Leadger, assustadoramente ausente desta personagem (no melhor sentido possível), que nos enche de calafrios por ser impossível não pensar em coisas extra-película quando o vemos chegar ‘morto’ dentro de uns sacos de plástico ao escritório de um dos patrões da Máfia, e que dá um colorido muito mais que roxo ao filme – sem ele, nem metade do bom o filme teria sido. O assalto inicial dá o tom ao filme, nunca mais esqueceremos o momento do hospital – com Leadger vestido de enfermeira -, ou mesmo os seus requintes de malvadez enquanto persegue o Batman com um camião. David Denby tem uma frase fantástica acerca dele: He’s part freaky clown, part Alice Cooper the morning after, and all actor. E quanto aos momentos nos barcos? Delicioso. Sim, dêem a porcaria do homenzinho dourado ao rapaz! Ele nunca esteve tão bem. E eu sigo-o atentamente desde o 10 Coisas que Odeio em Ti. [1] É claro que agora o meu lugar de psicopata preferido se encontra bastante tremido entre o Joker, Chigurh e, claro, Alex. Argh, escolhas difíceis…

Mal posso esperar para o ver em The Imaginarius of Doctor Parnassus.

(não faço ideia porque raio os 1s estão tão grandes... joker??)


[1] Que, ao contrário do que muitos julgam, não é só um chick flick mas, primeiro que tudo, uma adaptação modernaça de uma peça de Shakespeare, The Taming of the Shrew.

6 comentários:

Fernando Oliveira disse...

estava para ler o resto do texto, mas bloquei nesta contradição: Dizes que a mitologia batmânica é contigo, mas depois classificas o Jim Gordon de policia "dúbio". Posso ainda não ter lido o resto do texto e estar lá a justificação, mas...

dermot disse...

(1) O que não deixa de ser um chick flick, com boas intenções por trás. :S

LadyS disse...

Hum... fui confirmar sobre o Jim Gordon. Ele é apoiante do Batman na nova série de bd(também conhecida por pós-crise), mas as revistinhas de quadradinhos que tenho lá por casa (de onde vem a minha ideia de Gordon como bastante desconfiado sobre os métodos do Homem Morcego) são anteriores... esclarecido? Além que não sabemos ainda para onde a história vai. Gary Oldman a fazer de defensor do bem tout court parece-me um desperdício...

Fernando Oliveira disse...

na série de tv dos anos 60 o jim gordon era um velho comissário de policia apoiante do batman. isto antes da viragem para o lado negro da maioria dos comics (graças a uma coisa chamada watchmen, já viste a Empire deste mês?). o jim gordon só aparece como figura desaprovadora da metodologia do Morcego devido precisamente a essa metodologia muito marginal, conheces as graphic novels do Frank Miller sobre o Batman? Foi a partir daqui que o Batman foi um pouco redefinido como estando à beira da psicose e só por acaso é um sádico do lado do Bem. Quanto ao Gordon, é mesmo um defensor do bem tout-court. Podes ver o Leon, do Luc Besson, se quiseres um Gary Oldman enquanto policia dúbio...

Kelita disse...

Brutal! Porrada, Porrada!
Todos com comentários com substância e eu somente para fazer número!
he, he!

E sim, tenho que ver o filme "Watchmen".

bjs

Utópico Censurado disse...

...
Lendo a descrição do filme, comecei achar que era redundância atrás de redundância, então percebi que era mera questão de pontos de vistas iguais.
Quanto ao Heath ledger, desde a personificação Shakespeare do Patrick Verona que sou fã escancarado do menino. Principalmente depois de se tornar Padre Alex, Sir Willian Von Linchstein, menino Gabriel filho do Mel Gibson, até a materialização do famoso Cowboy viado. Enfim, Nolan acerta em um ponto crucial em seus filmes do homem-morcego, "a história é como é", ele segue a realidade óbvia dos fatos o máximo possível, é lógico que por fim ele é obrigaço a "deixar o Joker numa rede pendurada na sacada do prédio", mas ela é indiferente ao status de vilão e herói durante a trama.