quinta-feira, agosto 28, 2008

Wall-e (2008), Andrew Stanton

Quando os filmes com pessoas reais só nos desiludem, nada como apostar numa ida ao cinema para ver imagens completamente virtuais, feitas por máquinas que um dia tomarão o controlo do mundo e transformar-nos-ão em processadores de texto e plataformas para jogar GTA IV (por acaso, tenho de tratar da minha ignorância neste último aspecto…)

Primeira coisa maravilhosa extra filme: vem aí um Madagáscar 2. Após meses e meses a atrofiar com as pessoas que me incomodam no cinema, fiz toda a gente ficar incomodada com os meus gritinhos histéricos e “personificação” de pinguim. Nunca uma sequela me deixou tão esperançosa…

Segunda coisa maravilhosa extra-filme: a curta da Pixar que foi mostrada antes do filme. Ver curtas no cinema é tão raro que só posso pedir que isto se torne uma norma. É tão bom, um aperitivo antes do prato principal… Sobre um coelho e um mágico. E uma cenoura. Ahhhhhhh….

E chegamos ao filme. Estava reticente – toda a gente falava bem dele, e isso não costuma ser um bom indício para mim. Mas era uma animação, quiducha e tal. Sim, sabia a história por alto. Mas que mais havia para ver no cinema nesta altura?

Após a indescritível experiência de ver um dos filmes do ano (se não digo o filme do ano é porque ainda estamos em Agosto e está o novo dos Coen para estrear), digo-vos que este ‘ovni’ está alguns passos luz de se tornar num dos meus filmes preferidos de animação. Primeiro que tudo, é ficção científica. Sim, o meu género preferido não são chick-flicks, por estranho que pareça. Depois, é uma distopia, a minha variante preferida de ficção científica. Mais, tem as personagens mais adoráveis de sempre, para um filme desse género. Raramente falam (o que é bom, porque tive de ver a versão dobrada em português – só há quatro cópias do original em território nacional e, adivinhem, três delas estão em Lisboa…), são robots (amor à tecnologia só superado pelo amor aos animais irracionais e relâmpagos), a banda sonora é das coisas mais deliciosas – bem vindo de volta, Thomas Newman – e os créditos finais são… bolas, são geniais.

Isto conjugado com uma historia simples, de amor (uma variante de amor que não é irritante), que não se mete em aventuras para disfarçar com suberfúgios idiotas a sua simplicidade. Pixar, adoro-te profundamente. Isto sem moralidades disfarçadas (à lá Disney), e apresentando uma das personagens femininas mais fortes de sempre, sem quaisquer paternalismos – Eve. Yehhh.

E, claro está, Wall-E. Nunca um robot do lixo foi tão fofinho e outras coisas pindéricas acabadas em –inho. Cada robot com a sua mania. (palmas para o limpador incansável de sujidad).

É um filme para crianças? Definitivamente. O melhor é a maneira como um futuro horrendo (Terra coberta de lixo, humanos supra-obesos, domínio da tecnologia) é apresentado de uma forma tão natural e sem dramas. Sim, a esperança da plantinha, verdusca, que é ao mesmo tempo o que une e separa Wall-e e Eve. Mas.. nem sei explicar.

E as referências cinematográficas ao longo do filme? Além das óbvias – os musicais que Wall-e vê vezes sem conta, vi pelo menos a mais gritante a 2001 Odisseia no Espaço, e ainda Voando Sobre um Ninho de Cucos, The Hitchickers’ Guide to the Galaxy, além de todas as referências ao Admirável Mundo Novo de Huxley, Pinóquio (temos uma ‘barata’ muda a substituir o grilo falante) e a Bíblia aka História Humana em geral.

Adoro que sejam apresentados os dois lados do desenvolvimento tecnológico – a liberdade absoluta e a escravidão absoluta. Tal como as vantagens e desvantagens das máquinas ganharem personalidade própria. I’m afraid I can’t do that, Dave. Wink Wink.

Mais uma ressurreição final, é verdade. Mais uma dança no espaço. Bom ritmo, óptimo guião, excelente trabalho de animação (ainda mais tratando-se de objectos que não existem ainda). E sim, não é por acaso que a Eve tem qualquer coisa de Macintosh, a inspiração é confessada. O que torna o Wall-e… hum…

Para ver muitas vezes até enjoar, se isso for possível. O melhor substituto do ET para os tempos modernos. E isto é um enorme elogio, acreditem.

1 comentário:

Kelita disse...

Apoiado! "Wall-e" é um grande filme!