sexta-feira, agosto 08, 2008

Funny Games US (2008), Michael Haneke

Qualquer pretensioso cinéfilo que se preze conhece (nem que seja só de nome ou polémica) a obra do alemão demente Senhor Haneke, e eu não sou excepção – A Pianista foi de longe um dos filmes mais poderosos que vi, antes de saber mesmo como se ligava uma câmara & quem constituía o Novo Cinema Alemão dos anos 70…

Funny Games (falo do original) era daqueles filmes que estava na minha interminável lista de filmes a ver um dia, um objecto que tinha a impressão de conhecer na totalidade sem nunca ter visto, graças aos magníficos livros sobre guionismo & análise de filmes & cinema pós-moderno que tive de papar durante o curso. Por isso, ao ver escarrapachada da capa da Sight & Sound[1] que havia um remake americano a estrear, ainda mais dirigido pelo próprio Haneke (sim, não é só o Lucas que gosta de refazer os seus filmes), senti uma alegria imensa de poder ver o filme ‘actualizado’ e com um cast de categoria.

Não faço a mínima ideia quais as mudanças (ou se há mesmo mudanças) em relação ao original, por isso abstenho-me de falar disso (tretas que cada filme deve ser analisado per se e o mais possível sem referências externas apoiam-me nisto). Uma coisa é certa: Haneke não é para estômagos fáceis, e temos de estar preparados para aturar filosofia dos media de cada vez que nos concedemos ver um filme do senhor. O casal que teve o prazer de partilhar a sala de cinema comigo não estava a achar grande piada – aliás, acredito que Haneke ia achar genial a reacção do rapaz ao momento em que Pitt faz rewind na acção, destruindo a momentânea felicidade do espectador por ver justiça feita (e uma antevisão de final feliz).

Michael Pitt, digo já, nasceu para fazer papéis de psicopata. Naomi Watts, como vítima indefesa, ou dona de casa, fica um pouco na sombra. Roth está acima das minhas míseras palavras. A fotografia é, como já nos acostumámos nos filmes deste senhor realizador, uma carta muito forte. Palmas para Darius Khondji, que já tínhamos encontrado em algo completamente diferente como My Blueberry Nights, Se7en e Delicatessen. O mais chocante para mim, eu, a inimpressionável, foi a utilização da música. O contraste entre clássica e heavy rock… arrepia-me. Bastante potente foi também o anticlímax, que não conhecia.

É uma história forte, sobre a influência dos media na violência juvenil, mas que ironicamente se assume também como uma glorificação da violência, acrescentando que o espectador é um cúmplice passivo e indefeso, por muito paradoxal que isto possa parecer. Haneke afirmou em entrevista que a principal razão deste remake era levar a mensagem a um público mais alargado (ele sabe como a maior parte dos americanos é alérgico a legendas…), e faz assim um filme anti-Hollywood no seio do próprio.

Shall we end? Não causou tanto impacto como eu queria que causasse (o saber a história antecipadamente, ou talvez achar o tema da Pianista mais perturbante – afinal, já passaram dez anos desde que o original foi feito, entretanto o cinema tem-se tornado… hum… deliciosamente weirdo, nalgumas correntes - e não é claramente um bom filme para quem não sabe ao que vai, mas vale a pena, quanto mais não seja para os intelectualóides se sentirem perturbados e os outros se deliciarem com sangue, tripas, tortura e a Naomi Watts de roupa interior, amarrada, a saltar. Cada um com o seu gore…



[1] Reparem como a autora, aparentemente em tom de gozo quando fala de pretensiosos cinéfilos, deixa casualmente cair uma referência intelectualóide para mostrar a sua imensurável superioridade perante leitores de Empire & Total Film & Premiere & Tv Guia

Sem comentários: