terça-feira, agosto 05, 2008

Hancock (2008), Peter Berg


A pergunta que se impõe é: porque raio este filme foi publicitado como comédia? Têm noção da quantidade de pessoas que foram ao engano?

Acrescente-se a irritação sentida quando, na primeira parte do filme, se houvesse mais anúncios ao ‘twist surpresa’, até as criancinhas de 4 anos percebiam. ‘Ah, fiquei tão surpreendido…’ Como, gente?

No fundo no fundo, ultimamente sinto que tudo o que vejo são remakes descarados, ou sempre o mesmo filme. Este pareceu-me a versão super-herói do Youth Without Youth. Hum. Ou do Eternamente Jovem. Ou coisa assim.

Sim, Will Smith é um bom actor – despe aqui a sua imagem de menino bonzinho para fazer de herói alcóolico e sem memória, que salva as pessoas estragando tudo em seu redor. Com a ajuda de um promotor que salva de ser passado a ferro por um comboio (atirando o carro para cima de outros – subtileza não é o seu nome do meio), John Hancock vai tentar ser amado (ohhhhhh) pela população ingrata. A meio do filme, surge um twist que fora anunciado por néons fluorescentes e campainhas, mas que no fundo parece metido a martelo para conduzir a coisa a um fim comovente (e batmánico), do que propriamente uma reviravolta wow. Porque a grande dúvida era como raio ia acabar um filme assim, sem vilão, apenas com o objectivo narrativo aparente que Hancock se teria de regenerar e se tornar um herói a sério (roupinha de licra incluída). Mas como isso era simples demais, os argumentistas pensaram – ná. Vamos surpreender as pessoas. Pois sim claro…

Acho que foi muito ousado pegar na premissa e não a transformar numa comédia. Mas até que ponto pegar numa história de superheróis marginais e transformá-la numa história de amor imortal… argh. Se fosse eu a mandar, evitava a parte do romance intemporal e jogava com a noção de amizade inter-species, isto é, entre humano normal e humano (?) com super-poderes. A ideia de perda de memória, deixem que vos diga, também é um bocado tvi demais, não? E se bem que a guerra dos sexos à velocidade da luz pela cidade é muito atraente visualmente, isso não redime a sensação do filme estar a caminhar por um caminho… sei lá.

Esteticamente, voltamos à câmara trémula que é tão moderna (mas aqui revela-se adequada, conjugada com uma fotografia “suja” que dá um outro lado interessante ao habitual glamour heróico) que daqui a uns anos ninguém poderá com ela, tal como hoje ninguém pode com os penteados e música dos filmes de acção dos anos 80. Ok, há dias…

Mais, se vejo mais alguma ressurreição final ponho uma bomba atómica em Hollywood. Não me compreendam mal – quando é o Emmerich que o faz, tem estilo, porque é nessa linha que ele faz filmes. Agora, um filme com pretensões de reinventar o conceito de filme de super-herói… Ná.

Come-se, mas pode-se bem esperar pela versão televisiva embalada. Não há necessidade de ir ao restaurante. (isto de férias torna-me a escrita esquizofrénica, peço desculpa).

1 comentário:

Kelita disse...

Uma crítica adorável!
Não sei se é verdadeiro ou falso o que dizes, porque ainda não vi o filme.. LOL (ando a perder muitos filmes).
Mas por acaso se dizes que o filme entra pelo drama, acredita que se tivesse ido ao cinema, era na expectativa de uma comédia!

Ressureições maléficas?! tenho que ver isso! LOL